Confesso que nunca tinha parado para assistir High Fidelity, com John Cusack, Jack Black, Catherine Zeta Jones e “aquela atriz” que faz a namorada do John no filme (sempre esqueço o nome dela). Quando por acaso, numa noite insone de sábado, sem nada para fazer, fui ver TV, lá estava o bendito filme, ao qual eu sempre me referia “ah, é aquele com a famosa dança do Jack Black?”, e o pessoal respondia afirmativamente, porque eu não sabia mais nenhuma seqüência do filme a não ser esta...
A vida imita a arte e vice-versa. Quem inventou o chavão estava certíssimo, ainda mais quando se trata da sétima. No filme, o cara depois de levar um fora da namorada entra numa crise existencial... Bem, foi mais ou menos o que aconteceu comigo depois de alguns baques no relacionamento: até ex ex namorado encontrei, e por ironia do destino encontrei até o primeiro e comecei a fazer uma “releitura” da minha vida.
È incrível como mudamos, e também como as nossas reações mudam frente às novas realidades... Antes, eu tinha as mais exageradas, pueris e até mesmo egoísticas aspirações que você possa imaginar, como por exemplo, do tempo em que eu pensava em estudar em Harvard (ou era em Oxford? Que pretensão...) com um “futuro cientista político, ou físico, ou ativista revolucionário” (foi meu segundo namorado). Hoje, nós rimos da situação enquanto ele estuda Educação Física, eu me formei em Direito; ele se tornou um bibliômano (compra livros aos montes), não deixou de ser ativista, mas agora ele tem o equilíbrio de outra libriana (um beijo Dani!); eu me aquietei mais, procurando fazer no meu micro universo um lugar melhor (a velha estória do grão de areia), entretanto não deixei de ser excêntrica, em alguns aspectos... Nossas excentricidades eram nossa semelhança, porém nossos egos não nos permitem admitir que houvesse algo além: acho que somos melhores debatedores.
O primeiro namorado quase tomou um susto quando me viu: eu não era mais aquela menina “outsider” (aquela que não faz parte da panelinha de beldades da escola), que olhava sempre para o chão, para o outro lado, que queria até esconder que estávamos namorando, quando na verdade era apenas um ensaio... Ele reencontrou uma mulher, diferente (porque quando me conheceu quando estava em processo de metamorfose), sem aquela concepção “milkshakeana de morango (hahaha)” de que a vida é doce, cor-de-rosa e desce tão bem quanto sorvete - tão comum na adolescência - e, disse que só me reconhecera por meu humor continuar sendo sarcástico.
“Larissa, se chover ácido, você não vai nem sentir, continua sendo tão adoravelmente corrosiva quanto ele...”.
Agora ele quer ir para África, tem um trabalho interessante, pouco comum: se formou em uma especialidade da Engenharia e quer trabalhar desmontando antigas minas (aquelas bombas que mutilam centenas de pessoas todos os anos). Ele desceu num ponto antes do meu, ligou algumas vezes, mas depois sumiu.Agora lembro porque não deu certo: eu não gostava de seu jeitão desligado, ainda mais porque sou aquela carente assumida ( hei! Olhe para mim! Porra!).
Você se reencontra e se reconhece em velhos amigos, amores que não deram certo. A paixão tem suas razões, porém mais ainda tem razão o amor. Amor é uma média aritmética tão eficaz, mas ao mesmo tempo tão eficaz que um matemático quebraria a cabeça para fazer fórmula. Assim: são duas pessoas que são semelhantes e diferentes; semelhantes, porém não iguais porque se fossem tudo realmente seria tedioso; ao mesmo passo que são pessoas diferentes, porém não contrárias, são individuais, mas que fornecem ao outro um algo mais. E, na semelhança, encontra-se um “conforto” que é uma busca constante do homem: a identificação, cumplicidade, o fim da solidão intelectual. É o que se chama de dupla convergência, pois apesar de o amor ser tão banalizado - afinal, quem não diz eu te amo e depois termina com alguém e vê que não era?- em probabilidades, matemáticas acontece raramente.
Duas pessoas, com essa “média aritmética”, que além dela precisam estar num lugar certo, na hora certa e ainda obterem a dupla correspondência, pense bem, não é tão fácil.
Acho que vou pedir para alguém fazer isso em cálculo, será que dá?
A melhor lição depois desse “blá blá” é que realmente o poeta já era sábio quando dizia “não existe amor primeiro, amor de primavera, só existe um... Ele é único e não passa... Afinal, assim também é o tempo: nós é que passamos, ele permanece”.