quinta-feira, outubro 01, 2009

Lúcida

Sinto-me inquieta nestes tempos de ventania...Sinto-me desconfortável ante a minha inércia e inutilidade de meus pensamentos. Sinto o peito vazio e ao mesmo tempo inflado por outras aspirações, que não conheço, não provei, nem mesmo sei onde encontrá-las.

Estou blindada no meu apartamento, com os pés de chumbo presos em uma gaiola, mas meu coração voa, voa tão longe, quer mudar as coisas, quer mudar as pessoas... Ah! Essa minha inquietude...

Sinto-me tola e imprestável, contemplo minha vida e vejo que sou ainda jovem, que não devo esmorecer nem me entregar como as donzelas frágeis de outros séculos...Sinto que o tempo de contemplação é um pretérito, já terminou, não tenho “mais tempo prá me concentrar apenas comer pão com geléia” e me preocupar se amanhã vou comprar mais ou não.

Vejo que os dias se alongam e depois passam velozes, tudo isso distração da cápsula que criei durante minha viagem interior, fugi do externo e não pipoquei a frágil bolha que me circunda... Tenho medo.

Sinto o peito em brasa, a ardência não me deixa dormir, não me deixa respirar, sinto a ansiedade de fazer algo, de me saciar, de acabar com esse vento que sopra enquanto eu queria desgarrar uma das mãos e seguir com ele, deixar-me levar, abandonar essas coisas que não são tão minhas e essas ilusões que criei para me proteger.

Sinto-me como Jesus, que um dia em seus trinta anos levantou-se e não mais sentou. Mudou toda uma humanidade em três anos, sinto-me responsável pelo meu destino, e muito pior pelo destino de outrem, sinto-me convocada.

Quero buscar os problemas, mas eles estão aqui...O problema é que vivi fugindo deles e nunca me encarei verdadeiramente no espelho, venho tateando meu destino como um cego, como uma-mula sem- cabeça, como uma virgem pálida e débil, como uma mulher mesquinha e fútil, como um ser humano assustado com a beleza da vida, mas que não quer ter o trabalho de construí-la.


Sinto-me lúcida e isto realmente me assusta.

domingo, junho 28, 2009

FOREVER, MY BELOVED MICHAEL



Parecia mais um daqueles dias, normais: Salvador deserta por causa do São João, a névoa de fumaça das fogueias, bombinhas explodindo aqui e ali, pessoas retornando do feriado, enfim, tudo como era de costume.
Eu estava querendo ver o jogo da seleção, mas tinha compromisso de passar no curso de inglês do qual sou professora para tirar dúvidas de alunos, ou seja, por algumas horas fiquei sem meios de comunicação.
Penso que tenha sido melhor assim. Quando estava numa loja de cosméticos um homem anuncia:
-Ei, pessoal, na internet está dando que Michael Jackson morreu.
No mesmo instante, eu desmenti, disse-lhe que era mais uma jogada de marketing, igual a todas as outras mentiras que a mídia cria em torno dele, como o anúncio de que ele tinha poucas semanas de vida, no ano passado.
-Como? Não é possível, pois ele tem muitos shows para fazer.
Naquele momento, talvez eu tenha me calado e descoberto porque um dia antes me sentia totalmente triste e havia até postado num site de relacionamento, que “me sentia triste”.
Ao chegar em casa, minha mãe ligou e antes que ela dissesse, eu disse “eu já sei”.
Ela tentou me consolar, talvez porque seja a pessoa que mais sabia o que eu possivelmente estava passando.
Todos aqueles que me conhecem pessoalmente, sabem que sempre fui fã de Michael Jackson. Eu costumava chamá-lo de Michael, e durante anos no meu coração adolescente, eu sempre o tive como primeiro amor.
Vários amigos me ligaram e, pasmem, alguns que não falavam comigo fazia muito tempo...
Pode parecer ridículo amar um homem de natureza andrógina, envolvido em diversos escândalos com menores de idade, mas para mim, ele nunca era essa “coisa” que a mídia pintava.
Tornei-me especialista em Michael Jackson, tenho quase tudo sobre ele, que está na casa da minha mãe, pois no apartamento que vivo, não possuo espaço para guardar tanta coisa: desde os recortes de todas as notícias até as camisas do Olodum quando ele esteve aqui.
Aliás, eu também estive lá e foi a única oportunidade que pude vê-lo de perto, um experiência fantástica que me deixou muitos dias como estou agora, sem acreditar.
Eu vi Michael uma única vez e talvez sua visão jamais saia da minha mente: era aquele rapaz vestido de preto no fundo de um furgão, sorridente e suado, rindo com a multidão que o adorava e acenando aos fãs, que choravam ao vê-lo parecendo criança que diz” olhe como são bestas, mas eu os adoro, por isso, faço meu trabalho”.Quando ele passou no furgão e de repente a multidão se afastou e pude vê-lo, fiquei paralisada.
Eu ainda não acredito que ele se foi. Sinto como se tudo isso fosse um pesadelo, algo que não estivesse acontecendo.
As músicas de Michael faziam sua alma falar, criavam uma espécie de diálogo conosco, os fãs e era como se através delas a gente pudesse compartilhar um pouco de suas angústias, medos e alegrias.
Ele era meu amigo, estava sempre ali me dizendo “you are not alone, I am here with you( você não está só, estou aí com você), claro que eu sei que não fez para mim, mas naquele momento e em vários momentos de tristeza, sua música me ajudou.
Muitos astros pop escrevem sobre banalidades como ter beijado furtivamente uma garota (sendo que a cantora também era garota) ou então sobre consumismo, vícios declarados e hoje ninguém os critica quando se tratam de apologias ao sexo sem responsabilidade ou incentivo a consumir drogas.
Michael sempre foi um homem preocupado com seus fãs: O que eu devo mostrar para eles?O que devo fazer eles enxergarem?Sempre preocupado com a geração que iria influenciar, não deixava que suas músicas fossem contaminadas por futilidades; sempre foi um crítico do racismo, defensor da igualdade e da paz, preocupado com o planeta, preocupado com o futuro, com as guerras, com a falta de tolerância do ser humano.
Ele fazia clipes incríveis, era um mestre da dança moderna, sua voz era maviosa e doce, seu ritmo contagiante, suas explorações acústicas fantásticas, as além disso tudo ele não era vazio como a maioria dos ídolos hoje em dia: era um pesquisador, um homem amante da arte.
Eu nunca imaginei que ele fosse partir tão cedo, mas também nunca imaginei ele velho, talvez, já estivesse escrito que deveria se tornar mito.
O mito precedia a pessoa.
Meu Michael era como meu amigo invisível, meu companheiro de momentos de solidão e quando algum rapaz me machucava ou me fazia sofrer dores de amores, eu fingia estar conversando com ele e lhe dizia: Michael, não se preocupe, não vou ficar triste pois tenho você!
Quando eu ficava nervosa para fazer audiências, costumava colocar Beat It no ouvido antes de enfrentar outro advogado e sempre deu certo!
Lembro- me do último sonho- sim- eu sonhava várias vezes com ele e toda vez que sonhava com Michael, era sinal que algo bom ia acontecer ou que uma fase em minha vida estava vencida.
Tanto´e que quando sonhei a primeira vez ele me disse:
-Ei, olhe só você!Já sabe falar inglês!
A última vez que sonhei com ele foi a visualização de um grande sonho que era abraçá-lo e dizer:
-Ei, Mike, queria dizer que você é tão importante para mim, pois eu te amo!
Pois nunca nos sonhos eu conseguia sequer dizer uma palavra, eu apenas dizia “sim ou não”.E ele me pegava na minha mão e me dizia “ ei, Lari, vamos, vou te mostrar uma coisa” e nisso eu me sentia como se ele me conhecesse há anos!”
Quando vi seu empenho em revelar questões sobre a paz mundial a caridade, a preocupação com os animais, o desmatamento, percebi que ele não era mais um astro tentando se promover em cima de uma causa, pois ele já era engajado nisso muito antes de outros pararem para pensar.
Quem não se lembra de We are the World?Você viu a Madonna lá?
Muitos questionam, “ah, mas como você pode amar um pedófilo, racista e desequilibrado mentalmente?”
Não vou fazer aqui uma longa e realmente longa explanação, sobre as controvérsias da personalidade de Michael. Certa vez, um psiquiatra disse que eu era tão louca quanto e ele e provavelmente sofria dos mesmos distúrbios e chego a me perguntar se eu tina sido abusada sexualmente quando criança. Se eu me senti ofendida por ter sido abordada dessa forma, eu imagino o que ele sofreu. Jamais sofri abuso, tive a infância mais normal e maravilhosa que se possa imaginar.
Mas esse fato, serviu para me chamar a atenção de como as pessoas criam coisas que jamais existiram e as tornam tão elaboradas, que possam ser chamadas de “fatos”.
Quem acompanhou o processo, sabe, que não houve nada do que sempre foi propagado, é muito difícil, nos EUA, país notoriamente impiedoso com pessoas que se envolvem em escândalos sexuais, por ter uma cultura hipocritamente puritana, absolver um adulto que tenha molestado uma criança ou adolescente. Respondam-me: um júri de 17 pessoas( maioria homem, brancos, pais) absolveriam um homem que fosse culpado?
Contra fatos, não existem argumentos, o fato é que ele era inocente. E que Deus perdoe as pessoas que um dia o acusaram.
Mesmo assim, escuto as pessoas numa tamanha ignorância- me sinto decepcionada, pois são até pessoas inteligentes- e vejo que realmente essa geração é dominada pela “Mass Media”, pois são ignorantes que não lêem, não se informam e acreditam em tudo que lhes é posto, a cultura mastigável, como é apontado no filme Zeitgeist, a televisão, a imprensa domina o mundo e divulga aquilo que lhe é conveniente.
E eu juro: se eu descobrisse que ele realmente tivesse feito um décimo do que disseram que ele tenha feito, eu apenas admiraria o ídolo, e esqueceria todo o resto. Sou uma pessoa justa e racional, antes de mais nada, sou uma estudiosa do Direito e fiz um juramento para com a justiça, não só profissionalmente, mas pessoalmente.
Quanto as suas operações, é óbvio que suas fotos falam por si. Ele fugia de sua figura paterna. Fugia de sua aparência que segundo o próprio pai, era feia. Quanta ironia...
Agora uma parte de mim está quebrada, perdida, confusa. Essa parte foi que me deu amor imenso pelo mundo, que me ensinou a lidar com a solidão, pois ele era um homem solitário e incompreendido, e a sentir amor de outras formas que não sejam carnais ou sanguíneas. Não estou dizendo que ele tenha sido Jesus, longe de mim, isso é uma blasfêmia.
Mas o que ele me deu foi aquele consolo de que se um dia eu ficasse “véia” e solteirona, eu poderia ter dito: não casei porque Michael não deixou!
Nunca pensei de ir tão cedo nos EUA, mas acho que agora eu tenho um bom motivo. Se pudesse iria me despedir, mas já estou com outra viagem marcada.
Alguns me perguntam, talvez em tom de compaixão: ele foi feliz? Em minha opinião, ele foi sim feliz: ele era feliz, como pude ver aqui na Bahia, quando fazia sua música, quando estava nos palcos, ali ele se encontrava com sua essência e sabia porque estava vivo...
E acho que nós, os fãs, fizemos nossa parte, pois sempre o seguimos.
Com sua arte, ele não procurava aprovação da crítica, nem do mercado: ele queria mesmo agradar e superar sua própria e exigente perfeição.
Mas agora ele não está aqui, ao não ser me nossos corações. E onde quer que esteja, está pensando em seus filhos e vendo que tanta gente nesse mundo o amava, não pelo fato de ter sido um gênio musical, o maior astro pop depois de Elvis, mas sim porque ele era um rapaz doce e humano, e mesmo solitário, sabia amar o próximo, da sua maneira.
Ele sabia que com seu alcance tinha que mudar o mundo, de alguma forma.
Parabéns, Michael, você conseguiu. Todos nós somos o seu reflexo e queremos também mudar o mundo, começando com nós mesmos.
“ I am starting with the man in the mirror
I am asking him to change his ways
and no message could´ve been any clearer
if you wanna make world a better place
take a look in yourself
and make a change”
“Eu estou começando com a pessoa que vejo no espelho
eu estou pedindo a ele que mude seus modos
e nenhuma mensagem poderia ser mais clara
se você quer fazer do mundo um lugar melhor
olhe para você mesmo
e faça uma mudança”

Te amo Michael, hoje e sempre.

segunda-feira, junho 22, 2009

Discurso do casamento de Karlla e John, homenagem aos meus afilhados!



A vida é mesmo assim: às vezes nos apresenta situações esperadas, outras vezes nos faz surpresas que nos fazem dizer “ quem diria ou poderia imaginar?”.
Quando conheci John assim numa época meio difícil da minha vida foi a curiosidade que nos aproximou: ele era admirador da cultura brasileira e eu não sabia quase nada do Chile.
Lembro que trocamos um e-mail que se chamava “usted desea magia brasileña” e depois disso nos tornamos amigos no orkut, falávamos via msn, enfim comecei a acompanhar sua vida.
As coisas que mais admiro nesse meu amigo chileno é a sua sinceridade, sua maturidade e é claro sua vivacidade. Admito que é difícil falar de pessoas especiais, principalmente em momentos especiais. Então vou encurtar a estória, falando do meu sentimento, do que eu sinto por ele, pois assim eu posso dar uma noção a vocês.
Eu tenho um irmão caçula que se chama Luciano: esse irmão é praticamente meu filho, pois durante algum tempo eu criei, alimentei e até hoje ele me chama de segunda mãe. Só que meu filho teve que partir, ganhar o mundo, precisava trabalhar fora e deixa em mim uma tremenda saudade. Com ele eu podia falar as coisas mais ridículas, mais inocentes, penso que nós sempre tenhamos tido essa cumplicidade ímpar que é difícil encontrar no ser humano: a certeza de que você pode ser você mesmo, sem maquiagem, sem máscaras, sem gentil ou generoso, sem ter que dizer que as coisas vão bem, quando no fundo você deseja desabafar que está tudo destruído dentro de você.
Com meu irmão sempre me abri, sempre disse coisas que não pude compartilhar com meus pais e outro irmão, talvez por medo de ser censurada ou por medo de fazê-los sofrer.
Desde que vim morar em Salvador e ele foi morar em São Paulo, nós deixamos de ter essas conversas depois da comidinha gostosa de mamãe, deixamos de desabafar, muitas vezes embalados por memórias doces, ingênuas, ridículas, preciosas.
Estou falando do amor fraterno: John nasceu no mesmo dia que meu irmão caçula, e mesmo sem saber disso, sempre juntei seus gestos para compor meu painel de personalidade e sempre soube que com aquele chileno bem-humorado, eu poderia ter mais do que uma simples amizade, eu poderia ter um irmão.
Ele é filho único e talvez seja uma raridade nessa categoria que sempre apresenta pessoas individualistas, excêntricas e mimadas. Pelo contrário, apesar de sua agressividade escorpiana, ele é doce, doce como o seu veneno, por vezes manso e sábio, como também encantador: uma homem preparado para construir sua estória, com sua coragem, sua vivacidade e energia contagiante.
E o que dizer de Karlla?
Quando conheci essa baixinha, eu tive a impressão errada, pensei ser uma pessoa metida, daquelas que não se faz questão de ter amizade, mas percebo que aquela primeira imagem era apenas um reflexo de sua independência, que eu interpretei errado e depois quebrei a cara.
Quando Ana sugeriu que ela fosse conosco prá Argentina, fiquei meio receosa de que ela não acrescentasse ou até que ela se isolasse de nós, porém ao viajarmos juntas percebi que ela não era uma menina metidinha, nem uma fútil garota festeira, ela demonstrou ser uma mulher madura, uma pessoa doce e atenciosa, nossa guia e especialista das ruas de Buenos Aires, naturalmente fomos construindo companheirismo, carinho trocando confidências.
Apesar de nos conhecermos em tão pouco tempo, ela abriu seu coração várias vezes e com sua sinceridade, nos mostrou que a verdade conquista e nos faz amar rapidamente.
Certa vez disse a Karlla que eu sempre a via com um coroa, um homem mais velho e maduro ao seu lado e que esse homem ela encontraria no Rio...O interessante é que na época que eu disse prá que ela viajasse para o Rio, John estava lá...
Desde de antes, eu já tinha planejado isso, mas não pensava que fosse tão rápido. Porém, para os caminhos do amor, não existe mapa, nem tempo, nem medida, nem quantidade...
Quando soube que John viria para a Bahia, comecei a pensar quem eu poderia apresentar, quem seria sua pretendente...
Sabia que ele era uma pessoa cheia de energia e decidido: precisava de uma pessoa tão pé no chão , tão firme e vibrante quanto ele. Mas quem?No universo de minhas amigas não demorei muito a encontrar, pois logo eu pensei em Karlla, nessa baixinha , nessa mulher pequena, mas de coração grande e bom.
É certo que no dia do encontro, eu não pude estar lá, mas mandei minha representante Ana, mas não foi preciso nenhuma apresentação formal, como eu já suspeitava eles se dariam muito bem.Eles se entenderam, se desentenderam, indo e vindo...
O engraçado é que meu namorado Fio, sempre me disse que eles voltariam e não acreditei muito nisso, e depois quando lhe disse que John havia sumido ele me tranqüilizou:
- Ele está com Karlla, relaxe...
E não era mesmo verdade?
O tempo passou ( alguns meses) nos reencontramos num casamento: eu, Karlla, Jonh e Anna.Eles dois trocavam olhares, elogios, provocações e eu estava contente por eles estarem fazendo as pazes e não estarem frustando minhas expectativas.John nesse dia, emocionado, nos disse que nos amava( a eu e Anna) como irmãs.
Aquela noite marcava uma nova etapa para o casal, uma fase diferente, calma, madura e serena. Longe das turbulências, das pessoas, das festas, os dois trocaram votos de cumplicidade, criaram um cotidiano e construíram seu bem mais precioso e hoje estão construindo o tesouro da vida que Deus abençoa que é a família.
Não sei se foi Shakespeare ou Mario Quintana que disse que devemos cultivar as flores do nosso jardim para que as borboletas venham...E vocês, cultivaram o mais belo jardim e nesse jardim brotarão agora os frutos de uma família que une dois países, duas culturas, dois corações, duas almas.
Eu já havia dito como acredito no casamento num post de 2004, o que eu acho, continuo mantendo viu?

domingo, maio 24, 2009

Esmola: prá quê te quero?

Hoje ao passar por mais um semáforo, presenciei algo que se torna cotidiano, ordinário, ou como dizemos em nossa gíria: faz parte...
Não deveria ser normal ver crianças, crianças mesmo, muito pequenas, desnutridas e em fase escolar fazendo malabarismos e pedindo esmolas. As crianças estão fazendo malabarismos com côcos vazios, cacos-símbolos do nosso turismo tão bem mercantilizado. Um homem num carro de luxo, bonachão e preguiçoso ergue sua mão e presenteia a criança com algumas moedas, todo mundo já traz algumas prá quando essas situações de "flanelinhas” ou “esmolés” acontecer... Claro! É algo perfeitamente comum, tão comum quanto estacionar o carro, tão comum quanto escovar os dentes enquanto é noticiado que mais uma casa caiu nas encostas dessa cidade feita de “papel e cuspe”.Eu sou particularmente contra dar esmolas. Existem exceções, calma, não me venha chamar de avarenta ou nada-cristã, pois sou extremamente religiosa e a caridade deve ser exercida com responsabilidade, nos tempos atuais.Porque as pessoas ainda pensam que vivem na Idade Média, quando ser marginal era realmente difícil, praticamente até a geração de netos, uma pessoa reaver uma posição digna na sociedade, era impossível.Você sabe o que sua culpa faz?Cria gerações de crianças pedintes, pois, você, meu caro quando pensa “coitadinho dele” não está pensando com compaixão e sim com pena, sentimento desastroso da humanidade, pois diminui o seu semelhante através da culpa, por saber que indiretamente ao tirar aquelas participações nos lucros do seu empregado, você faz com ele pague menos a moça que faz diária, conseqüentemente ela não dá conta das despesas em casa e acaba criando um marginal ou um pedinte...
Se uma pessoa tem fome e alega não poder comprar comida ou remédios, por que não se dirigir a um supermercado mais próximo, ou farmácia e comprar o que o pedinte necessita?Você acha que está ajudando distribuindo algumas moedas no semáforo?Essas crianças crescerão pensando que dinheiro é algo fácil ou então acharão que qualquer coisa sem técnica e com improviso pode gerar dinheiro, como prostituição, tráfico, assaltos...
Gostou? È isso que a sociedade civil brasileira vem criando. Nós reclamamos que os outros países são emocionalmente mais frios, que não demonstram afeto facilmente, enquanto nós somos mais humanos... Humanos? Que calor humano é esse que deixa uma criança torrar embaixo de um sol de 40 graus fazendo-se de artista de circo, enquanto a família de classe média vai para uma churrascaria?Nossa sociedade civil é uma vergonha, nós estamos acostumados a esse individualismo notadamente brasileiro, não sei se posso dizer sul-americano, que nos faz pensar primeiro no “eu”, depois no “eu” e terceiro no “eu’, só por precaução. Queremos que o governo tome providências, mas o governo não resolve tudo não! O brasileiro é acostumado a culpar o governo, quando, em cada quarteirão, se todos ajudassem o menos favorecido, essas situações não aconteceriam. E o que fazer com uma aglomeração de menos favorecidos? Um movimento. Só mesmo a união de várias forças para fazer isso. Poré, eu sou evangélico e ele é católico, se fosse meu irmão da comunidade...Não vou discutir isso de bairrrismo religioso, ou se você é Bahia ou Vitória, ok?
Com certeza, vai ter aquele menos favorecido intelectualmente que vai dizer “ ah, mas pelo menos eles estão fazendo algo como um trabalho!Melhor do que só pedir ou roubar”, pois é.E desde quando criança trabalha?A não ser aquela menina do SBT, a criança deve brincar e estudar.Se eles querem fazer malabarismos, acham isso bacana porque não é criado um programa para torná-los futuros atletas?Quem sabe se tornarem estrelas como aqueles do Cirque de Soleil?Dar esmolas sem ser consciente, não é ato de caridade, mas sim ato de extrema crueldade com o futuro, pois você está condenando alguém que poderia perceber que é melhor ir estudar e alcançar algo melhor; e se não tem nada prá comer, a culpa não é só do governo, mas também de um processo social que vem desde a abolição da escravatura: é nossa culpa.

domingo, maio 10, 2009

O drama da mulher moderna ou não...

Hoje é dia das mães: mais uma data capitalista que nos força a sentir complexo de culpa por não termos dado atenção a nossas mães nos últimos tempos e/ou ter ignorado seus conselhos...
Ontem ao passar por uma loja de chocolate quase gastei o equivalente a vinte caixas de bombom da marca mais vendida (não vou aqui citar marcas porque você deve imaginar qual eu estou falando) e, me perguntei: “bem, eu poderia dar para minha uma caixa de bombons toda semana durante meses”!Desisti, pois pensei que a minha mãe não pode comer tanto chocolate, pois anda fora de forma e isso seria um duplo complexo de culpa. Então, que tal flores?Ano passado eu quase surtei com a entrega de um ramalhete de roas vermelhas que foi disputado, acho que havia até quem estivesse dando lance por ele, por isso, resolvi antecipar a compra: porém, percebi que entregá-lo seria mais difícil do que eu poderia pensar, pois moro em Salvador e minha mãe mora em outra cidade... Mais uma vez, desisto do meu plano.
Maio para mim é um mês realmente penoso porque além dos dias das mães, tem o aniversário da minha mãe e sempre tenho duas ou mais pessoas que conheço casando... Em junho, acho que meu cartão de crédito deverá ficar guardado na gaveta e ainda bem que não gosto de festas juninas porque o prejuízo poderia ser bem pior!Ao contrário da maioria que fica triste e nostálgica no natal, eu não gosto da época do São João e, geralmente me isolo do mundo...
O cerne da questão, porém não é este.As pinceladas sobre o dia das mães, foi só uma embolação introdutória para falar de um fantasma entre as mulheres modernas: ser ou não ser mãe.
Eu confesso que estou na idade em nos sentimos vulneráveis a essa paranóia e sempre que medito sobre o assunto tanto me manter calma para não surtar... Estou lendo aquele livro campeão de vendas (mania atual é ler tudo que é mais vendido, golpe de publicidade fabuloso para vender milhões), porque sempre alguém fala ou conversa sobre o livro e quando você diz “ainda não li” parece ser o último dos seres humanos: foi assim com o fiasco do Marley, do Caçador de Código ilustrativo da Vinci (quem não sabe nada sobre are ou estória dar arte fica meio perdido); assim estou lendo aquele livro daquela americana magrela que viajou três países com I e confesso que às vezes tenho raiva dela, às vezes me solidarizo com suas confissões.
Entre elas, a dúvida de ser ou não ser mãe. Ela descreveu que jamais seria mãe, ainda não li o fim, também não sei se a autora é ou não mãe, opõe sei é que a achei vazia nesse momento.
A maioria das mulheres da minha geração está vivendo o fenômeno contrário ao de suas mães: talvez daqui a 30 anos, algum sociólogo estude ou crie a tese que separa esse omito histórico que vivemos; as mulheres conquistaram seu espaço, abriram mão de sua ocupação tradicionalmente de mãe e muitas hoje já optaram em não procriar.
Hoje, o tempo passa depressa e percebo que as mulheres de trinta não são as mulheres que dizem ser, são meninas despreparadas e que muitas vezes tentam passar maturidade, mas se perdem em suas conveniências, nas exigências de uma família tradicionalmente patriarcal e machista, e acabam fazendo casamentos, destruindo suas vidas, tudo por medo da solidão e/ou rejeição.
Quantas amigas eu não vi casarem com o primeiro príncipe “fajuto” só porque já se consideravam titias ou porque não achavam coisa melhor?Quantas continuaram suas vidas com aquele encosto de “namorido” que só as fizeram (e as farão ) sofrer porque tinham medo de passaram a “época de fogo” a sós?
A maioria de minhas amigas está preocupada porque ainda estão perambulando pelos barzinhos da vida, em busca do homem perfeito (que não existe) e se queixam que querem ter filhos, mas o tempo está passando e nenhum candidato aparece e...
-Por que não adotar uma criança se você tem tanta vontade de ser mãe?
-Mas, amiga, é uma responsabilidade muito grande!
-Casamento também não é?
-Ah, mas pelo menos o pai poderia assumir metade da responsabilidade, né?
-Ele pode sim contribuir para oferecer referenciais, é importante, eu admito, mas quantas crianças não foram criadas sem pai e foram seres humanos excepcionais, que falar das viúvas e mães solteiras?
-É...
-Então?
-Hummm, acho que é muito cedo prá isso...
-Ok, quando você tiver 50 talvez, né...
As mulheres querem o que nossas avós tinham de graça: pretendente. Óbvio que a sociedade mudou, os tempos mudaram, hoje a solteirice é bem mais atraente( principalmente para os moiçolos que continuam- mesmo com umas ruguinhas no canto do olho- a usarem camisa colada, malharem compulsivamente e irem prá balada pegar as menininhas de 20, no auge dos seus 40...).Infelizmente o bicho homem pode ter filhos até mesmo sendo um senhor caquético e eles, sabem disso muito bem.Infelizmente, o relógio biológico para com nós mulheres é implacável: um dia acordamos com 15 e outro dia não conseguimos dormir porque já temos 30...
Aliás, é triste é a ironia da vida. Qual a semelhança entre um eunuco e uma mulher que não pode mais ter filhos?Os dois podem ser bem submissos...
Antes de tudo quero esclarecer que não sou contra casamentos... Um leitor assíduo pode pensar que sou feminista ou que sou aquela militante radical que acha que as mulheres devem ser uma das personagens de sexy and the city, porém não sou assim.
Como a maioria das mulheres , sou romântica incurável sonho com meu casamento, porém não descarto a possibilidade de não vivê-lo.Eu tenho comigo meu plano B: e filhos, naturais ou não pretendo tê-los.
Aumenta a incidência de mulheres solteiras com crianças adotadas: venho percebendo através da convivência que muitas mulheres não conseguiram estabelecer a família tradicional e partiram para continuar sua estória com uma prole adotada.
Não é a síndrome da Angelina Jolie (se toda mulher depois que adotasse um órfão encontrasse um Brad Pitt, acho que não existiriam mais crianças de rua!), antes de todo esse boom de adoções eu já tinha isso em mente e, mesmo que eu tenha filhos naturais eu virei a adotar pelo menos um.
Hoje uma grande amiga de adolescência está com sua cria em casa, passando primeiro dia das mães amamentando, já que ela deu à luz faz pouco, só dois dias!Mas, esse fato me fez voltar a escrever e pensar: porque alguém não ia querer ter uma criança?Qual verdadeiro o dilema da mulher moderna: ter filhos ou não ou simplesmente não saber qual o papel que desempenha na atual vida moderna, já que ordem natural das coisas vem sendo mudada?
Que cada balzaca responda ou se cale para ouvir os sobrinhos...

segunda-feira, fevereiro 02, 2009


Ele acorda

Eu durmo

Ele me beija

Eu finjo dormir

Eu ouço suas palavras cantadas

Ele me traz o café

Eu sussurro em seu ouvido

“coisa linda”

Ele sorri encantado

Eu cubro seus pés

Ele me cobre de beijos

Eu faço dengo

Ele se faz de dengoso

Nós dormimos entrelaçados

Ah, quem dera eu pudesse acordá-lo agora...

Mas deixa: ele dorme feito criança...

Que sono lindo!

E pela manhã, quando abre seus olhos, derrama no leito a cor do oceano...

“Que horas são?”

“ Não sei.”

Ah, não posso mais perder cada despertar!

Porque sei que é minha hora de dormir, enquanto a luz das suas esmeraldas estão a me guardar.