quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Três Anas, Duas Marias, Uma Larissa

Ao chegar em casa, me deparo com as três Anas, provavelmente filhas de um mesmo pai, que não era o Manoel Carlos, se não todas seriam Helenas-falando nisso, que novela mais chata aquela das oito, uma repetição de outras que o velho Maneco fez, sei lá, acho que ele deveria saber que o Brasil não é só o Rio, deveria inovar, mas como a elite carioca adora suas tramas, a “Vênus platinada” vai esgotar a fórmula até o “véio” embarcar para o próximo plano: não consigo ver um capítulo inteiro, acho que perdi algo de ser brasileira e gostar de novela, ou já não se fazem mais soap operas como se fazia antigamente...Enfim, onde parei?Ah, sim, as três Anas, respectivamente: Flávia, Angélica e Flora-três prédios semelhantes construídos nos idos de 1981, quando meu irmão Leandro chegava a este mundo.Não tenho muito contato com os vizinhos, mas acabei me deparando com uma vizinha que não poderia deixar de ser citada aqui.Leu o título do meu blog?Já expliquei numa publicação introdutória que é um título de uma de minhas poesias, talvez a primeira que tornei pública justamente por causa dessa minha vizinha, a famosa professora Maria José.Aquela senhora rechonchuda e morena cabo verde, com ares de beata ou até mesmo de “professourinha” primária tinha que enfrentar os dissabores de ensinar religião para uma turma de estudantes do segundo grau, no meu caso era primeiro ano. Aliás, eu fui a primeira a questionar por que não teríamos aula de Organização Social e Política do Brasil-sem aquela fachada herdada do militarismo num culto alienante ao Estado brasileiro e totalmente sem noção de nossa calamitosa situação sócio-econômica: na realidade, eu queria cair em cima do professor que fosse dar essa matéria, escolhi num ano de revolta pessoal quem seria minha “vítima”.Mas como não apareceu na grade, me frustrei. As aulas de professora Maria José eram uma verdadeira “ escolinha do professor Raimundo” ou seja, uma comédia. A maioria dos meus colegas só queriam se drogar, beber, ou “ ficar com algumas gatinhas” e lá vem uma “senhôura” querendo ensinar boas maneiras, além de encaminhar os adolescentes para a Igreja Católica.Era mais ou menos assim:
-Bom dia meus meninos, como têm passado?
-Mal, agora que a senhora vai dizer que vou para o inferno - ironizava Hugo, um dos mais rebeldes dentro da sala de aula.
-O quê, não ouvi o que disse meu filho?
-Não, pró, eu queria saber mais sobre o inferno...
-Ahhhhhhhhhhhhh, Kurt Cobain morreu!Que desgraça!
-Quem é esse meu filho?
-A senhora não conhece-hostilizava Fabian, o grunge da sala, o único a comparecer todas as manhãs sem falta na aula de educação física que a mãe dele dava...
-Como ele morreu?
-Ele se suicidou e, é o que vou fazer!
-Não, meu filho, não!Se você fizer isso você vai para o inferno, você é um jovem tão saudável, tão bonito, sua mãe deve se orgulhar e...
-Não, professora, não comece, inferno já é aqui!- todos se lascavam de rir, quando qualquer um falava da mãe de Fabian e ele ficava com vergonha, pois os meninos achavam sua mãe meio louca, mas tinha um corpo desenhado pela prática de exercícios.
Apesar de alardear que ia se matar, Fabian nunca tentou e vive até hoje.
E num desses mercadinhos da vida, eu a reencontrei os mesmos olhos cândidos que choraram ao ler minha poesia e me dizer “Isto é muito lindo minha filha, tem certeza que não copiou de ninguém? Olha a gente tem que publicar! Vou primeiro fazer umas cópias, você assina em baixo e coloco nos murais da escola, certo? Por isso que não quero me aposentar!”. Ela não me reconheceu de imediato, mas depois lembrou de mim, pois me perguntou se eu havia feito jornalismo e já tinha lançado meu livro de poesias. Eu disse que era muito cedo, e não achava minhas poesias tão boas, que preferia publicá-las aqui, no meu espaço (por isso não me desvencilhei dele).Acabei descobrindo que ela mora no Ana Angélica e, fiquei de ir visitá-la, até mesmo para rever sua aposentadoria.Quando a reencontrei era época perto de Natal, enquanto Maria, Mãe de Jesus era exaltada em todas as Igrejas.Talvez, amanhã a gente se encontre na padaria: coisas da vida.Mas, ela foi a primeira a reconhecer minha criatividade e estimulá-la a ponto de se tornar uma benção e um fardo para mim: descrever as coisas tão ricamente, num lirismo desenfreado, nem sempre é bom para um ouvinte angustiado, nem para um leitor preguiçoso.Tento podar ao máximo, não quero entediar ninguém, muito menos você meu querido leitor.

4 comentários:

Anônimo disse...

Entediar???? Tá loca!!!! rs...
A-do-roooooo teus escritos...e os detalhes são tudo!!!! Pode continuar que eu gostcho!!! :))
Também concordo com você sobre essa novelinha...dá para acompanhar numa boa assistindo uma vez por mes...sabe que já estou até pegando birra do Tom Jobim e companhia Ldta??? Ninguém merece ver só o gosto depressivo do autor!!! Enfim... Saudade de tu, viu??? :))) Bjssssssssssss

Anônimo disse...

Não entendiou não, tá ótimo!

Bjão

Anônimo disse...

Corrigindo: Não ENTEDIOU, não!

Anônimo disse...

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