Eu olhei através de um caco de vidro quebrado, na verdade perfume quebrado.Queria ver algo mais, porém o que via não era tão agradável.Cheiro forte incendiava o quarto, ela tentava limpar o chão.Rolavam lágrimas, agonias. O sol entrava por um buraco no teto, luz fraca.Na cama, sua blusa bordada, cheiro de mofo.Os olhos ferviam, a voz soluçava, “me deixem fugir, me deixem fugir...” Distante dela eu me colocava, não queria sentir mergulhar no fundo de sua frustração, abarcava os sentimentos com doses paliativas de um positivismo sem sal, mas com mais açúcar, água com açúcar, remédio para todos os males do coração feminino, doce ilusão. Enquanto eu olhava o vazio de sua vida, o quarto era pleno e adornado por pequenos mimos, talvez aqueles que nunca lhes forma dados, presenteados por ela mesma a cada partida, a cada romper de seu coração.Rolava suor, letargia. Efeito inebriante do perfume no chão,entontecia. Seus cabelos desfeitos, sua cama impecável, ela preferia o chão, frio e úmido; piso branco que refletia as sombras que não seriam apenas visuais, mas também aquelas projetadas por este absurdo de paixão. Escavucava seus flancos e juntava com as mãos os cacos.Jorravam gotas de sangue, apatia.Eu pedia socorro, mas ela é quem “dizia me deixem fugir, me deixem fugir”.Os papéis estavam para ser assinados, suas mãos trêmulas e encorpadas pelos anos no qual se afundou em sua gula desvairada e compensatória, demonstravam pouco viço, eram a exteriozação de uma vida de devoção marital, um pouco caso, na verdade, descaso, não tão rara figura de mulher sem rumo.
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