domingo, janeiro 29, 2006

Da emoção artificial ou Even better than the real thing

Estava pensando no último post, mas na se preocupe na vou mais falar sobre celular. Estava pensando na parte do que o Gasparetto disse: se não existir aquele algo em você, ele jamais existirá ou virá a eclodir.Sua crítica estabanada, popular e sem tecnicismos me faz refletir sobre várias coisas...Volto a filosofar, sem pretensão de ser uma Sapho, ou num exemplo mais próximo Marilena Chauí.Mas, todos os dias me pego no famoso “ wondering”( divagação mesmo).Pensei na emoção artificial.
Paramos em frente de um Big Brother, achamos maravilhosa a fraternidade de alguns participantes, condenamos a falsidade de outros e, chegamos a chorar quando vemos alguém passar momentos tristes, ser eliminado... Será mesmo que aquela hora que alguém chora porque vê algo “emocionante” é porque ela sente aquilo?Ou porque numa espécie de alienação coletiva, com medo de ser julgado pelos que estão em volta (ou até mesmo por ele mesmo) o “fiel telespectador” responde com uma lágrima ou um choro desenfreado?
Acho que estamos vivendo em épocas de emoções artificiais e, numa decadência de valores pessoais, desconstrução da família e até mesmo transferência do “eu-universo” para o externo, estamos externando emoções que nem existem, quiçá nem sejam compreendidas em sua profundidade. Tudo bem, que não sou um velho sábio chinês, que não sou uma autoridade em psicologia, mas não precisa ser para ver tudo isto à sua volta.
“Ah, quem na se emociona com um belo filme?”, tudo bem qualquer um pode colocar essa pedra no meu caminho. Você chora porque todos choram ou porque você também sente?Você aplaude por que sente, se emociona ou retribui com uma ovação algo que não toca em seu coração por etiqueta?É a banalização do aplauso (tem que aplaudir? Não, não é falta de educação, penso. Acho que banalização, me perdoe, ajuda ainda a reforçar a palavra “banana”, para aquele que gratuitamente presenteia um orador com suas palminhas... Poupem-me).
É isso, aí pessoal: chegou num extremo que hoje só algo induzido por dinheiro nos faz chorar. Quer ver?

-Uma pessoa morreu. Tinha apenas dezessete anos e...
-Foi?Passa o sal.
-Mãe, fulano foi eliminado do Programa!
-Não!!!!!!!!!!Meu Pai, coitado (seguem-se as lágrimas). Logo ele?Que injustiça.

Um belo filme emociona a poucos que cultivam seu jardim de emoções. Um reality show induz a uma realidade que tomamos como nossa criando uma emoção artificial. Compram-se emoções. Ver pobres se “esgoelando” na TV para alcançar seus sonhos é emocionante. Ver massacres nas guerrilhas não revolta ninguém. A emoção teleguiada é ainda melhor do que a real: essa tem prazo de validade e um dia você pode até descobrir que ela nem existiu A fraternidade que pensamos existir e vemos num programa é exemplo mais clássico. Quem é que possui isso?Hoje em dia entendo a enxurrada de livros de auto-ajuda: capinhas coloridas, psicologia barata. Estamos regredindo.Que pena.

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