Na fila para tirar uma foto com Papai Noel, uma mulher adulta, tailleur marrom, meio sem graça, porque as crianças a olhavam com raiva de “pow, tirou minha vez!”. - Ho, ho, ho, minha filha o que você quer do Papai Noel? - Bem, eu, eu... - Pode dizer, eu sei que você acredita em mim... - Que bom, que o senhor sabe...É... Eu trouxe uma carta para que eu não demorasse...E... -Não peça alguma coisa e deixe a carta com minha ajudante! -Pow, Papai Noel, é tanta coisa! E eu não vou ler, não! -Pense em algo que você deseja muito... Então eu pensei e disse o que eu tanto desejava no ouvido do velhinho, que se divertia comigo indo lá, no meio de tanta criança... Ele disse que daria um jeito... Mas, não tive coragem de entregar minha cartinha à sua ajudante(uma perua daquelas que fazem tudo para aparecer). Quando já indo embora: -Esqueceu de levar um bombom, escolha! Esta é a carta. Querido Papai Noel Escrevi uma cartinha para te entregar, mas não sei se o senhor vai ter tempo de ler... Destas eu não faço desde que tinha sete anos e até então, fora algumas derrapadas, tenho sido uma boa menina: mas, nem sempre é bom ser tachada de “ boazinha”, é um cartaz do tipo “ pode abusar que é mosca morta” ou “ free, use me”. Bem, eu não quero nada material este ano, acho que seria uma afronta pedir qualquer coisa, pois esse ano tive a comprovação de que até se você ganhar algo que deseja muito, sem estar bem nada tem graça...Por isso não quero o Box do Live Aid, não quero aquele sapato novo que paquero faz dois meses, não quero um perfume de Giogio Armani, não quero(mentira...). Na verdade, eu quero é não ser tão tolerante, tão passiva, tão encarcerada em mim.Não quero calar e consentir com as pessoas que tentam me colocar prá baixo.Desejo ter uma vida normal,com sentimentos normais; não quero carregar um dom que parece um fardo, viver as coisas com tanta profundidade e conhecer tão bem o fundo do poço( por falar nisso,Papai Noel, chama o corpo de bombeiros que tem uma menina chorona presa lá dentro!). Eu desejo que em 2006 e não só no Natal eu tenha paz.Que eu seja mais desencanada com as coisas da vida, deixe elas seguirem seu curso, fluírem, sem que eu fique preocupada, medindo, pesando, construindo hipóteses inúteis.Eu quero não ter ninguém controlando minha vida, desejo abandonar essas drogas que me deixam dopada, com uma dor escruciante no estômago, tanto que me sinto melhor quando não como. Desejo aceitar as pessoas como elas são e não como eu gostaria que elas fossem. Quero poder ter um ano sem tantas lágrimas de frustração, noites insones, clientes mal agradecidos, poder dizer algumas “liberdades” para quem não quer escutar a verdade... Desejo ter força, pois o preço para conquistar meus sonhos é alto e preciso passar nas provas e provações da vida. Quero chegar em casa e ouvir “ boa noite, meu amor”, receber cartão de dia dos namorados, ser amada e não me sentir mais uma Bridget Jones da vida em reuniões com dezenas de casais... Quero tão somente Papai Noel, ser feliz. Não quero ser melhor, nem pior do que ninguém, quero apenas me aceitar, qualquer que seja meu destino( mesmo sabendo de algumas linhas incompletas), quero viver e não apenas existir. Ps: se o senhor encontrar com a fada dos dentes, aquela que vinha buscar meus dentinhos debaixo do travesseiro, diga-lhe que já fechamos a conta!Agradeça ao meu Anjo da Guarda por ter me salvo umas dez vezes e não ter me deixado fazer nenhuma besteira... Ah! E diga àquele anjo anão, o cupido, que vou enfiar-lhe uma flecha bem naquele lugar! |
sexta-feira, dezembro 23, 2005
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