domingo, dezembro 04, 2005

Dos vinis que meus pais possuem, um me intrigava mais.Um homem narigudo, com um camisa básica preta num fundo branco, sem efeitos, sem retoques, uma capa que parecia estar viva...Aquele vinil era intocável: meus irmãos adoravam brincar com os discos e crianças manuseando vitrolas são verdadeiros Djs(coitados dos vários exemplares arranhados), ou seja, eu tinha que proteger aquele moço do rosto fino e olhar penetrante, afinal eu adorava todas as músicas daquele bolachão.Tanto que tentei realizar uma façanha: entender tudo o que ele dizia, afinal ele não cantava no meu idioma, eu não sabia se ele estava falando bem ou mal e, uma criança como eu era, não achava certo escutar um cara que fosse do "mal".peguei um velho dicionário do meu tio, comecei a traduzir Instant Karma(vixe...), mas foi piorando:Happy Xmas(war is over), Give peace a chance...Então, conclui que era burra e que jamais entenderia o que ele falava.Desisti.Passou um tempo, entnedi porque eu não entendia tão bem as coisas e hoje eu dou muita risada: querer traduzir letras em inglês cm apenas 8 anos, quando eu nem tinha aulas, era complicado...
O homem que me empurrou para estudar inglês foi o John.Ainda guardo o encarte de uma coletânea que saiu no Brasil depois de seu assassinato dentro da minha Gramática com um papel envelhecido e letras miúdas de uma garotinha que o adorava. As pessoas que me conhecem dirão " ah, mas você não amava o Michael Jackson?", realmente, ele foi uma paixão, e como todas elas fenecem, hoje não vejo minha identidade com ele, lembro dos bons momentos e os revivo.Porém, outro dia quando fui responder um questionário, me deparei com a seguinte indagação "quem seria você no mundo Rock?", realmente eu seria como ele: esnobe, mas adorável( ah, Liam Gallagher, você jamais será assim), político mas ao mesmo tempo sem se envolver com nenhum deles-afinal, você precisa de engajamento, uma causa, e não uma vaga nas casas de poder-romântico, porém rebelde. Ele era aquele tipo do cara que dizia uma frase solta e alguns diziam" é só um hippie que fuma baseado, tudo uma merda" e outros certamente escreveram livros sobre seus pensamentos, afinal, ele mandava mensagens através das cabeças mais eruditas e sarcásticas, porque nem todos tinham a mente arejada para receber suas idéias, nem estomâgo para aguentá-las; dos quatro Beatles ele era o mais original, o que tinha a famosa "atitude" : não era o metódico Macca, nem o psicodélico Harrisson, nem o baterista Ringo, ele tinha seu estilo próprio de compor e não seguia escolas, ele era natural. Apesar de Paul ser considerado um dos maior compositor de nosso século, Lennon suplantou sua imagem com a imortalidade de mártir pela paz com seu famoso bed-in, algo que para mim o colocou num panteão de pacifistas como Gandhi(outro que cito sempre em minhas aulas), ambos librianos, povo tão dedicado ao equilíbrio neste mundo.Toda vez que ouço Jealous Guy tenho a sensação esqusita de um certo companheirismo com ele e lamento sua perda.Não sei se ele era gay, não sei se ele era um obcecado por sua segunda esposa, não sei se ele falava todas aquelas frases impactantes porque ele assimo era, não sei se ele era apenas o hippie maconheiro que destruiu a melhor banda de todos os tempos, não sei o que se passava na cabeça daquele psicopata quando atirou nele...O que sei é que não damos chance a paz, melhor conselho que ele nos deu.Sei que ele queria envelhecer perto do litoral na Irlanda, ao lado de sua Yoko, foi o que ele disse ao compor 64.
I owe it for you, Jonh.

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