quarta-feira, agosto 30, 2006

Mariage


A prudência não cabe mais em meu corpo
meu vestido morto transparece a hipocrisia
meu vestido branco inundado de desejo
desespera uma inocência tardia

Não roubei a luz do sol
para me trancafiar numa torre
não chorei meus pecados, nem arrumei minha mala
não exterminei meu passado, nem quis o "que eu queria"
quiseram por mim...
não descobri a lua, mas na areia me vestia

O mar conversava enquanto umidecia meu espírito
dançava o sorriso no espelho, num futuro quase satírico
encontrei girassóis carregados pela luz
eo vento de vidro que castigava minha face
enquanto eu estendia roupas no azul do rol
sussurava em meu ouvido promessas de desenlace

Desnudavam minha alma enquanto me olhavam nos olhos
cerravam a desconfiança na maturidade
construíram tetos de vidro, casas para os anjos
esfacelaram a verdade.
E nos fizeram roupas.
esconde tua vergonha num pedaço de pano
esconde tua ira num corpo acetinado
num terno abrilhantado pela falsidade

Meu vestido branco não me trouxe paz
as valquírias andam nuas, as vestias cobrem-se
com sapiência
e meu vestido morto não me trouxe paz.

Não renasceu com o amanhecer
não assobiou como o mar
não refletiu a beleza da lua
não trouxe beleza para minha alma
apenas enfeitou os olhos de cobiça
afagou a vaidade e se deitou com o desprezo
não roubou a festa, não dividiu atenções, não encantou minhas visões
apareceu deslocado diante da mácula de cores
nem mesmo afastou minha prudência.
Noites insones.Nesse caso mais uma coincidência com o Miguel Fallabella: somos librianos, temos insônia e agora estou um pouco loira, mas nemtanto quanto ele.Um adendo: falando do Miguel, eu o adoro.Acho que se topasse com ele na rua iria lhe tascar um beijo na boca: não porque acho que ele um homem sedutor, nada sexual...Coisa de fã mesmo, acho que ele até não gostaria, mas, mas...Bem, eu tentaria e ainda diria:
-Tu és divino, Miguel!
Então, retomando.Noites em branco, eu passo por minhas páginas em branco e atavicamente as transcrevo.Papel branco, virginal.Sendo violado pela mão sinistra, escrita redonda, anos de peripécias caligráficas: afinal, eu fazia a caligrafia até de quem não queria, até mesmo dos meus irmãos, isso me ajudou no famigerado Exame da Ordem, onde mesmo com o maior aprofundamento jurídico, é possível voltar às bancas primárias e ganhar uma caligrafia na frente dos futuros colegas de profissão.Sim, eu vi isto e muito: não é só com médico, é com outros profissionais liberais...
Fico delirando aqui sobre o papel porque a tela de um computador me intimida.Talvez porque meus pensamentos sejam mais rápidos do que meus dedos, talvez por realmente ser vaidade de um espírito como já bem citei atávico, que goste de escrever com papel e caneta.
Foi uma frase que me despertou para este preâmbulo que estou falando.Frase do orkut, que me deixou a questionar: what may be a vice today, maybe a virtue tomorrow. Vícios e virtudes. Well-well, quais são os meus vícios que podem se tornar virtudes? Caro leitor, você não imagina quanto tempo eu levei para descobrir isso e achar uma resposta plausível, adicionada ao fato de que fiz uma ligação para outra cidade para saber de minha melhor crítica pessoal: minha mãe.
Resolvi utilizar silogística, premissa maior, premissa menor, conclusão, esquece.Fujo da ciência e dos métodos.
Resolvi listar:
Café
Chocolate
Cadernos...
Não sei bem se isto pode ser listado como vício e recorri ao “Orélio” (eu devia ser chique e citar o Houaiss, mas sou pobre e a gente adora a edição mini do pai- dos- burros).Gostei do significado três (aliás, três é demais...); conduta ou costume nocivo ou condenável.
Talvez esta seja mais confortável porque me faz mais carola, mais virtuosa.O café não será uma virtude, a não ser que descubram que a cafeína estimule outra coisa a não ser servidores públicos.O chocolate não será virtude porque certamente eles trarão consigo um acúmulo de gorduras que me tornariam uma lontra, eu não espero por um inverno tão rigoroso assim.
Meu vício que pode ser uma virtude é escrever.Por isso, as noites brancas, bem aproveitadas, lendo e escrevendo, abstraindo.Outro dia estava numa "loja de doces" como uma criança( leia-se: a candyshop é a papelaria!).Cadernos de toas as cores, tamanhos, formas, eu juro que vi uns Lumpa-lumpa e o Willie Wonka, enquanto eu alisava os cadernos.Não sabia qual escolher: o do ratito miguelito, eu poderia também ajudar o Greenpeace, ou então comprar uns novos que foram feitos com anjos renascentistas.Eles me chamam...Suas páginas brancas me pedem, chegam a sussurrar: me leve, me possua...
Estou delirando, de novo.Eu tenho uma tara por caderno.E por preenchê-los com minhas loucuras.Por isso, os períodos longos, por isso adoro o Miguel, por isso escrevo demais.
Meu vício é escrever demais.Condenável, talvez.Uma virtude?Quem sabe...

sábado, agosto 26, 2006


Estou cercadas por pessoas maravilhosas: meus pais, meus irmãos, colegas (alguns não todos) e, poucos indivíduos que posso chamar de amigos.Porém, sempre existe um, que você sente a maior falta, talvez a maior parte do tempo porque eu na a vejo faz anos...Ah, e os anos...Eles se condensam, a gente tende a “enlatar” tudo de bom e fazer conservas...
Queria abrir muitas dessas “latas” com minha melhor amiga, saber que seu sorriso seria sincero e desprovido de inveja ou chacota, sentir que sua crítica aos meus “pecados” não seriam pedras atiradas com a fúria cega ou espírito instintivo de desfazer do próximo que reside no ser humano; saberia que seus conselhos seriam de uma velha conhecida, que sempre soube a pessoinha tão louca que fui.
No dia do amigo, recebi mensagens diversas, mas nenhuma delas foi por prazer, mas por obrigação (sabe quando te passam aquelas mensagens encaminhadas por sabe lá quem? Pois é... Bastava escrever com sua própria palavra, acho algo mais sincero).É por isto que escrevi uma cartinha e como não a encontrei, guardei e esperava que um dia ela pudesse ler.

Minha querida

Muito se passou.Tantas coisas, não sei nem onde eu começo, mas acho que fazer um revival dos meus últimos anos é por demais enfadonho e isso eu só faria se você estivesse do meu lado...Já não somos as meninas brincalhonas que ficavam na Praça Abrantes uma tarde inteira com caderno na mão, só esperando o rapaz da Doceria entrar e sair, sempre sorrindo; ainda lembro do belo moreno, você lembra dele?
Lembro, também de todas às vezes que descobríamos algo diferente na vida adolescente e achávamos incrível, o que hoje para nós seria ridículo.Só você continuava ali, “posuda”, bancando a adulta e dizendo quase sempre “está vendo aprenda!”, mas no fundo a vida sempre te forçou a ser mais madura, não é?
Minha amiga, hoje mais do que nunca eu precisaria do seu apoio.Sinto-me só, mesmo cercada de gente, coisa que não acontecia com você.Não sou mais a menina que você conheceu, tornei-me uma mulher com “problemas de mulher”, mas ando cometendo erros que você chamaria de primários (eu acho), os erros de uma mulher com coração de menina.Sua sinceridade e objetividade arianas desconcertariam meu romantismo pueril que chegou até a parecer uma afronta aos mandamentos de sobrevivência que você sempre pregou. Eu sinto muito...E não foi só isso!Não só nos relacionamentos entre as pessoas, mas também no profissional acabei transportando essa característica da minha personalidade.Sei que você vai dizer ”hei, você fez Direito, não fez Serviço Social, esqueceu? Que droga de mundo você acha que vive?”, então eu balançaria a cabeça afirmativamente, e vc ainda complementaria: “tem que aprender que você não é a encarnação de Gandhi, nem mesmo ele seria assim”.
Não uso mais óculos, só de vez em quando, no caso de não estar com paciência de por as lentes.Meu cabelo está enorme, pintei de castanho, pintei de vermelho, agora está uma cor que busca outra, mas ta meio descolorido, inveja de seus fios dourados...Ouvi uma vez que você estava ruiva!Terminou a Faculdade, já é uma bióloga, dos amores não sei, nem os meus, nem os seus.Me conta?
Em todos os anos eu pensei em você.E quando limpava gavetas, tentando reformar a bagunça do meu eu, abri aquela cartinha que você pediu para eu não abrir até que a gente se despedisse naquele ano de 1997, quando a gente mal sabia pra onde ia...Eu tive aquela sensação boa de ter alguém que era como se fosse a irmã que nunca tive.
Todos escrevem “eu te amo”, “eu te adoro”, mas quando você escreve algo sei que todas as palavras são verdadeiras, porque você sempre teve dificuldade de lidar com suas emoções, de se apegar alguém e medo de sentir amor, ver essa pessoa ir embora.
E eu, me senti honrada por ter sido a pessoa que tirou um pouco desse medo, de se abrir mais para o mundo e não viver tão fechada em você.
Sei que você vai me matar por estar dizendo isso publicamente!Já posso ver seu rosto tão branquinho se transformar em vermelho, quando está zangada ou com vergonha.
Bem, eu terminando por aqui.Queria dizer que quando minha “xará” nascer eu vou batizar.
O bordão “calma moça” acabou ficando comigo...
Não fabricam mais Tocatta, que droga né?
Arianos só servem como meus amigos, namorado não cola já tentei, viu?
Onde você estiver, que um anjo paire sobre você te proteja minha menina.
I worship you.
Lari.

sábado, agosto 19, 2006

Depois de muita chuva, o sol esquenta o domingo. A vizinha apressa as crianças, dia de praia. Estou só em casa e o jornal de domingo chega. Leio as crônicas de Gilson Nascimento e Mayrantt Gallo, passo para os classificados e descubro que até a Raica, já tem cotação no mercado de “profissionais voluntariosas” que fazem companhia para executivos do tipo VIP, ou na tradução mais rude e popular, puta.É cedo ainda, começa a chover e alguns tiram o cavalinho da chuva, ou melhor, nem mesmo tem dinheiro para comprar um, tiram a tralha da sacola, esquecem da farofa tão dominical e desistem de comprar frango. Nada de praia. Meu telefone toca “Satisfaction” e nem consigo atender, pois uma dor uterina, mais conhecida como cólica me faz contorcer -e não há nada de satisfação nisso - e, falo com minha melhor amiga que me pergunta se vou ou não ajudá-la a ir à Delegacia. Acontece que, uma mulherzinha - e quando digo “zinha” é da pior espécie - pegou um táxi de uma cidade para outra, quase 100 Km e foi insultar minha amiga só porque ela estava namorando o “ex” dela...Que me chamem de fria e calculista, mas eu jamais protagonizaria uma cena assim.Moi?!Mamãe que não teve a mais britânica ou francesa das educações, mesmo assim me ensinou que é melhor ser um iceberg do que afundar com navio e tudo mais; infelizmente, algumas pessoas só entendem a linguagem do “vá tomar” e adoram que você se iguale: não são todas que merecem essa sua depreciação verbal.A coisa foi feia: agressão física.Não culpo minha amiga porque sua natureza é calma, entretanto tem sangue espanhol nas veias, que somado ao baiano, só poderia dar em cena de folhetim das oito. Senhoras e senhores, são páginas da vida(argh).Levantei da cama, me entupi de analgésicos e empurrei literalmente algo comestível.
O que mais me chamou atenção foi que enquanto esperava ela chegar na livraria da rodoviária, um senhor começou a conversar com um jovem.
O rapazote meio tímido folheava um desses livrinhos com “leõezinhos na capa”, bem bobinhos, com frases bem feitinhas, tudo detestavelmente açucarado.Vejamos o diálogo, que eu captava com toda atenção de bisbilhoteira:
-Você gosta de ler meu rapaz?
-Sim, muito...
-O quê?
-Ah...Romances...Essas coisas (amareladamente, devolve o livro à prateleira e me olha desconcertado).
-Você deve também se aprofundar e descobrir mais coisas ao seu respeito...Sabia disso?
Então, o sábio senhor que afirmava possuir 3.000 mil anos (é isso mesmo...) de pesquisa, dava conselhos cósmicos e o rapaz ouvia atentamente, às vezes puxava o velho senhor para lhe dizer algo, pois o mesmo era surdo de um dos ouvidos. O ancião percebeu que eu ouvia e passou a palestrar virando-se para mim e para o rapaz.Sabiamente, ele citou vários cientistas, traçava paralelos entre eles, coisas profundas sobre o espírito humano, as coisas mais verdadeiras que ouvi durante toda a semana inteira, enquanto eu tentava esconder um infame e genial exemplar que carregava comigo de Hilda Hist e outro de João Ubaldo.Seu nome era Ubirajara e ele me deu um cartão de um espaço de meditação, que não sei como descobriu que eu gostava, ou sentiu...Senti no ar um aroma de rosas que circundavam o ambiente.Ele me disse:
-Não queira ser médium, seja só você mesma.Se for uma escolhida, trabalhe essa energia, mas não faça disso um drama...Sim, por mais que eu lhe diga o que é bom para comer, quem vai ter que comer é você. Por isso, alimente-se, mas de forma correta.Cuide dos chakras.
Eu levava meio que na descontração, mas quando ele falou isso tentei não desfazer, aceitei.
Fechei com a clássica de que conhecendo a nós mesmos, conhecemos o universo e ele disse que eu tinha pegado a mensagem. O rapaz se despediu porque ia ver a namorada, eu também porque minha amiga me procurava.O velho Ubirajara despediu-se foi até a Siciliano procurar mais conhecimento...Minha amiga ainda choque, não conseguia comer, eu tudo que via me revirava o estômago.Almoçamos mesmo assim.Na Delegacia a má vontade é sempre uma constante, principalmente num Domingo de sol: os agentes blasfemam, os policiais doidos para tomar uma breja, ver a morena de biquíni e tendo que ficar enfiados nas fardas cor –de-burro-quando-foge da polícia local, vendo todo tipo de “Zé ruela” adentrar no recinto.
Entregamos a intimação, missão cumprida.
Eu pegava o ônibus em direção a minha casa deixando a amiga com o tão disputado namorado. “Humm... Sempre só...”, eu voltava igual ao Cazuza, meio que com inveja, meio que com melancolia.
Dentro do ônibus meu estômago começou a se revoltar...E quando desci mais parecia uma usuária de heroína, vomitando tudo que forçado para me manter de pé.Sensação horrível, nunca mais tinha tido náuseas, nem me lembrava mais o que era ter náuseas...Vi tudo rodopiar, a temperatura cair, pensei em ligar para meus pais, mas eu mataria um deles, certamente.
Andei um pouco, entrei numa farmácia, comprei o que o cara falou, péssima mania de brasileiro...Do lado, um cybercafe, viciados em CS por todo canto.
Pensei na minha mortalidade, na minha fragilidade, lembrei do conselho.
Então pensei “nele”, por que não?
E ele me chamou de amor depois de uma longa temporada.
O sol realmente reapareceu num dia certo.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Eu te amo como a curiosidade do medo maior de viver
de fenecer sem frutos e sem raízes.
Te amo como a luz que atinge a escuridão
Resgatando as boas lembranças escondidas no fundo de uma caixa azul
Eu te amo como a mãe loba que perdeu sua cria
Eu te amo como tempo que transforma
Vida, morte, obra
Com o sangue que fervilha em veias de um coração exposto
Eu te amo em sendas abertas pelo mistério infindável da vida
Eu te amo com o inverno negrume
Cinzel da minha alma em açoite
Eu te amo com tudo que não és
E com tudo que não sou
Amo-te somente
Te amo com o perfume das matas
Como os rios que fecundam a terra
Com as estrelas que reluzem em lonas eternas
Eu te amo como os jovens amam a liberdade
Mesmo sem saber o que fazer dela
Eu te amo com a carne e a ira
Estampando o desejo, transmutando a violência
Eu te amo como os campos que abrigam as ovelhinhas, que abrigam a paz
como as velhas senhoras que fazem crochê.
Eu te amo sem saber o porquê
E te amo assim porque não há outra maneira
E sonho contigo.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Achei um outro espelho...

Este lindo espelho reflete sofisticação e o poema publicado exaure as minhas tentativas de não aceitar o desafio...Babem!
" As almas gêmeas quase nunca se encontram, mas quando se encontram, abraçam-se"