sábado, agosto 26, 2006


Estou cercadas por pessoas maravilhosas: meus pais, meus irmãos, colegas (alguns não todos) e, poucos indivíduos que posso chamar de amigos.Porém, sempre existe um, que você sente a maior falta, talvez a maior parte do tempo porque eu na a vejo faz anos...Ah, e os anos...Eles se condensam, a gente tende a “enlatar” tudo de bom e fazer conservas...
Queria abrir muitas dessas “latas” com minha melhor amiga, saber que seu sorriso seria sincero e desprovido de inveja ou chacota, sentir que sua crítica aos meus “pecados” não seriam pedras atiradas com a fúria cega ou espírito instintivo de desfazer do próximo que reside no ser humano; saberia que seus conselhos seriam de uma velha conhecida, que sempre soube a pessoinha tão louca que fui.
No dia do amigo, recebi mensagens diversas, mas nenhuma delas foi por prazer, mas por obrigação (sabe quando te passam aquelas mensagens encaminhadas por sabe lá quem? Pois é... Bastava escrever com sua própria palavra, acho algo mais sincero).É por isto que escrevi uma cartinha e como não a encontrei, guardei e esperava que um dia ela pudesse ler.

Minha querida

Muito se passou.Tantas coisas, não sei nem onde eu começo, mas acho que fazer um revival dos meus últimos anos é por demais enfadonho e isso eu só faria se você estivesse do meu lado...Já não somos as meninas brincalhonas que ficavam na Praça Abrantes uma tarde inteira com caderno na mão, só esperando o rapaz da Doceria entrar e sair, sempre sorrindo; ainda lembro do belo moreno, você lembra dele?
Lembro, também de todas às vezes que descobríamos algo diferente na vida adolescente e achávamos incrível, o que hoje para nós seria ridículo.Só você continuava ali, “posuda”, bancando a adulta e dizendo quase sempre “está vendo aprenda!”, mas no fundo a vida sempre te forçou a ser mais madura, não é?
Minha amiga, hoje mais do que nunca eu precisaria do seu apoio.Sinto-me só, mesmo cercada de gente, coisa que não acontecia com você.Não sou mais a menina que você conheceu, tornei-me uma mulher com “problemas de mulher”, mas ando cometendo erros que você chamaria de primários (eu acho), os erros de uma mulher com coração de menina.Sua sinceridade e objetividade arianas desconcertariam meu romantismo pueril que chegou até a parecer uma afronta aos mandamentos de sobrevivência que você sempre pregou. Eu sinto muito...E não foi só isso!Não só nos relacionamentos entre as pessoas, mas também no profissional acabei transportando essa característica da minha personalidade.Sei que você vai dizer ”hei, você fez Direito, não fez Serviço Social, esqueceu? Que droga de mundo você acha que vive?”, então eu balançaria a cabeça afirmativamente, e vc ainda complementaria: “tem que aprender que você não é a encarnação de Gandhi, nem mesmo ele seria assim”.
Não uso mais óculos, só de vez em quando, no caso de não estar com paciência de por as lentes.Meu cabelo está enorme, pintei de castanho, pintei de vermelho, agora está uma cor que busca outra, mas ta meio descolorido, inveja de seus fios dourados...Ouvi uma vez que você estava ruiva!Terminou a Faculdade, já é uma bióloga, dos amores não sei, nem os meus, nem os seus.Me conta?
Em todos os anos eu pensei em você.E quando limpava gavetas, tentando reformar a bagunça do meu eu, abri aquela cartinha que você pediu para eu não abrir até que a gente se despedisse naquele ano de 1997, quando a gente mal sabia pra onde ia...Eu tive aquela sensação boa de ter alguém que era como se fosse a irmã que nunca tive.
Todos escrevem “eu te amo”, “eu te adoro”, mas quando você escreve algo sei que todas as palavras são verdadeiras, porque você sempre teve dificuldade de lidar com suas emoções, de se apegar alguém e medo de sentir amor, ver essa pessoa ir embora.
E eu, me senti honrada por ter sido a pessoa que tirou um pouco desse medo, de se abrir mais para o mundo e não viver tão fechada em você.
Sei que você vai me matar por estar dizendo isso publicamente!Já posso ver seu rosto tão branquinho se transformar em vermelho, quando está zangada ou com vergonha.
Bem, eu terminando por aqui.Queria dizer que quando minha “xará” nascer eu vou batizar.
O bordão “calma moça” acabou ficando comigo...
Não fabricam mais Tocatta, que droga né?
Arianos só servem como meus amigos, namorado não cola já tentei, viu?
Onde você estiver, que um anjo paire sobre você te proteja minha menina.
I worship you.
Lari.

2 comentários:

cjb disse...

Larissa,

eu adoro o jeito que teu texto sempre me posiciona como voyeur -- no melhor sentido -- das narrativas que você desenvolve.

Na primeira leitura tinha um fraseado teu que me bateu como dardo (ou bala) prateado no meio da testa. Só que agora, na terceira leitura, sumiu.

Suspiro e passo adiante.

Vitória? Piatã?

Em que parte do mundo você vive?

Conta pra gente.

Anônimo disse...

Sou mesmo xereta...rs...li todinha
a cartinha para sua amiga...
Que linda, Larissa!!
Quando eu for menina de novo, me escreve uma cartinha assim???
:))))))
Beijosss