quinta-feira, outubro 27, 2005

The Foreign pal

Noite de chuva. Uma quinta-feira, não suporto mais viajar de ônibus. E ainda mais chovendo porque a bendita marinete atrasa!Coloco a bagagem no porta-malas, me despeço da minha mãe, recebo um pacote de lanche. Alguns passageiros curiosos afastam as cortinas, entre eles um loiro belos olhos azuis, certamente estrangeiro. A viagem vai ser chata, sem livro, minha pilha do discman havia acabado, não tem “filme da Disney” para assistir... E pela primeira vez, o ônibus tem som ambiente. O que rolava?Comecei a captar: baladas melosas dos anos 80, parecia uma coletânea daquelas que se vende pela TV como “os maiores sucessos de todos os tempos” ou qualquer coisa assim. Meu assento é na janela, do meu lado,um senhor moreno, aparentemente cansado.Levantou-se, imediatamente, ainda me ajudou com um “saco”(meu edredom, coisa de menina amarela, chata, uma versão do Lino do Snoopy). Levantei, fui buscar água para tomar o remédio no freezer, lá no fundo. Encontrei uma figura que conversava com uma gringa e perguntei a ele se tinha alguém no banheiro. Em inglês, a gente comentou algumas coisas.Retorno à minha poltrona.Os olhos azuis se levantaram e quando olhei de volta, ele fingiu estar procurando algo lá atrás.Maluca que sou, cara-de-pau madeirite, num estalo perguntei ao senhor do meu lado se ele não se importaria de trocar de lugar, pois eu era estudante(hahahahah) e praticar meu inglês.Ele olhou para o gringo(ainda não sabia sua nacionalidade, mas qualquer um que fosse ele falaria inglês ou espanhol, ou eu erraria italiano um pouco, ou eu faria bico demais se fosse francês) e disse tudo bem. “Só quero mesmo é dormir”, sorriu o homem, “então, tá, eu vou falar com ele.” “Hey, pal, how are you?” O cara respondeu que era dos EUA, se apresentou, etc., ainda meio que surpreso... E daí, eu perguntei “ quer sentar aqui?Quer conversar comigo?”Ele mais espantado ainda, perguntou se o homem do meu lado iria se importar.Eu falei que já tinha falado com ele.Então trocaram de lugar, O gringo, nome esquisito, que eu nunca vi, perguntei várias vezes...Pegou todas aquelas tralhas de mochileiro, até pensei “ que faço eu, atormentando as pessoas...”.O cara, até pensou que eu estava interessada nele, começou a fazer olhares, poses, deu uma de “Robert” total, mas disse logo que era casada(apesar de ter de dizer depois que era mentira), que tinha chamado ele para conversar, porque a viagem ia ser chata e que precisava trocar idéias, para acabar com aquele tédio.Então, ele se sentiu envergonhado, começou a falar do Restaurante em São Francisco, de como era sua vida, o que ele gostava no Brasil,a viagem até a Amazônia, várias coisas.Começamos a conversar sobre música, assunto que eu adoro.Ele começou a cantar uma que estava tocando,pergunto se ele gosta.Ele faz que sim.E faz-se silêncio, súbito.ele respira profundamente, pergunto “acho que tem algo errado acontecendo com você”.Ele disse “como você sabe?”.Dava para ver, eu lhe expliquei.Eu disse “conta, vai, desabafa,você não vai mas me ver mesmo, sou uma estranha, num país estrangeiro para você, não vou interferir em sua vida”.Tinha medo do juízo que eu fosse fazer dele,mas me confiou seu segredo, seu problema, sua namorada, que por hipocrisia da sociedade, porque a religião (uma igreja protestante muito rígida) não permitia não poderia continuar com ele e eles estavam tendo vários problemas, até mesmo uma suspeita de gravidez, e deixar a Bahia sem resolver tudo isso... Através de seu sorriso eu via um homem preocupado, aflito, que realmente precisava desabafar. E a música parecia aquelas quando dois amigos bêbados choram suas desgraças, acho que era Air Suply, sei lá. Quando fiz essa comparação ele me disse “ poderia ser roteirista, tem uma ótima visão, descreve bem as coisas, já pensou nisto?Só não estamos enchendo a cara.” Daí, brindamos com água mineral.Logo, ele usou o mesmo argumento para que eu desmentisse a estória de que não era casada e, contei o que aconteceu comigo naqueles turbulentos dias de junho.Ele deu um conselho, precioso para quem precisava de calma.Eu não sou boa para escolher títulos.É este que está aí. Ele escolheu. Um abraço forte, Scriv, o amigo que conheci numa viagem para Recife, compartilhando problemas, o colega estrangeiro.

Ps.: O “scrivaninha” parece que voltou para casa.

Um comentário:

Gustavo disse...

hehehehehehe
Com vc, parece que acontece de tudo né?