sábado, setembro 30, 2006

Dá licença, hoje é meu aniversário


Bem, hoje eu poderia escrever mil coisas, narrar minha trajetória, falar de minhas lutas pessoais, vitórias e derrotas, enfim, contar minha estória, como se eu colocasse um espelho em meu coração e ele descrevesse tudo que sentiu e não-sentiu nesses vinte e poucos anos de vida...Não me sinto ainda com essa idade que tenho hoje e por incrível que pareça, há momentos em que chego a questionar se a minha vida já tem essa cronologia ou eu fiquei congelada por algum tempo...Tenho um coração de menina, adolescente mesmo, às vezes me castigo por minhas falhas e vejo que sou severa demais comigo, pego pesado em minha disciplina, entretanto, em outros episódios eu me sinto tão mais velha e sábia que chego a me admirar, a olhar para mim com orgulho por ter tomado uma decisão certa ou ter sido mais ponderada em determinado momento.Um parapsicólogo disse para mim certa vez que o verbo da minha vida era PONDERAR e, desde então tenho tentado fazer isso, uma missão difícil, porém necessária para minha evolução.Vocês lembram do velho Ubirajara?aquele que encontrei na livraria?Ontem fui comer caruru na Lapa e acabei encontrado ele, sentadinho e bem-arrumado do lado de uma jovem senhora, e começamos falar sobre física quântica e procesos de desdobramento, a energia que emanamos de nossos corpos, que é estudada cientificamente, e ele, falou de novo sobre eu equilibrar minhas energias, meditar.Rita de Cássia, a educadora que também estudava muito o assunto e discutia com ele, quando cheguei na mesa, acabou concluindo algo que venho estudando na vida: tudo realmente tem um propósito, nada é por acaso.
-Você não me encontrou por coincidência, nem voltou a vê-lo por isso, são as energias que estão em afinidade que nos levam para pessoas de mesmo patamar evolutivo, em termos de espírito, sempre as pessoas que você vai atrair são pessoas que condizem com sua vibração...
-Sou simplória em afirmar que tudo foi por acaso...
-Normal, a gente quando é jovem teima em acreditar.
Então, para mim, saber que todas as pesoas que estão comigo são maravilhosas, é também saber que meu reflexo é assim, e quero trabalhar cada vez mais isso, minha essência, minha luz, fazer do mundo um lugar mais bonito, tão belo como meus mais puros sonhos.
"O homem é mortal por seus temores, e imortal por seus desejos", Pitágoras.

quarta-feira, setembro 27, 2006

O diabo só pode vestir C&A...

Sobre o filme que lançaram agora, segundo meu amigo cinéfilo é ruim -falamos dele, fazemos merchan - mas para quem não se ligou é o Diabo veste Prada.O motivo deste post é engraçado porque começou no blog da Lenir que falava de suas aventuras na C&A e disse que estava louca para ouvir minhas aventuras por lá.Então, vamos nós.A tentação é grande quando colocam logo essa loja na entrada do shopping mais popular de Salvador.Imagine só: centenas de pessoas que passam numa estação de ônibus e daí, dão um pulinho no shopping “só para olhar as novidades” e acabam com a sacolita da dita cuja.A coisa que mias se repete e parece mantra de compra não-programada: “ai, não sei porque entrei, não vai dar em mim, vai ficar ridículo”, é o pensamento mais feminino ao sair de um balaio de promoções.O mais engraçado nisso tudo é que além de você pagar uma prestação que nunca acaba e achar até baixos os juros (que sinceramente, são massacrantes quando o pobre não tem dinheiro para pagar a loucura que a patroa fez), você tem que enfrentar filas quilométricas para tudo: desde comprar até pagar.Realmente: ou o diabo veste C&A e atenta todo mundo para comprar ou é um negócio que se desenvolve cada vez mais, parabéns para os administradores que não deixaram cair como a saudosa Mesbla (onde a gente comprava de tudo, desde perfume importado até cama, mesa e banho).
Eu já fiz de tudo para não perder uma peça, sou ré confessa.Assim como a Lenir que assumiu seu pequeno defeito e citou brilhantemente a frase “até na mulher mais honesta, reina um instante de faceirice perversa”, é uma verdade universal entre as mulheres e atire a primeira pedra quem nunca viu uma peça única na mão de uma felizarda e se arrependeu por não ter olhado com mais atenção.Certa vez, eu na fila para comprar uma peça que estava voando dos cabides peguei uma sem olhar numeração, nem nada.Então, na minha frente tinha uma gordinha e seu marido que mais parecia primo do Salsicha do Scooby (imagine só a dupla), quando coloquei a peça por cima da roupa, percebi que estava folgada e fui olhar o tamanho “M”, que infelizmente não preenchia meu atual porte físico de “Twiggy disfarçada” (ou seja, a falsa magra).Ela começou a estender a peça e perguntar ao marido:
-Será que Belinha vai gostar?
-Ouxe, eu acho que não, viu...Ela não gosta de rosa, prefere azul.
A mulher estava indecisa, pois era presente de aniversário, não sabia o que dar para a cunhada fashionista.
-Belinha é toda fresca, fica se achando entendida de moda, ela não sabe nada, vou levar essa e se quiser é o que achei de mais bom gosto...
-Ói, não me meta em suas escolhas, viu?Só falei que ela não vai gostar por causa da cor, se fosse azul...
Então, eis que ela deu um olhar para mim, daqueles que fingimos não estar olhando mas fazemos até um raio-x de quem estiver do lado, aquele que depois tem o feedbak que toda mulher identifica como ALARME DE DESDÉM: “essa daí não deve comer nada, magricela filha-da-mãe!”.Isso ela fazendo comparação com suas células lipídicas que transbordavam em seu conjunto de malha (brasileira quer andar na moda, mas não entende bulhufas o que pode e não pode vestir).O marido, que até então se encontrava de costas, virou-se, deu uma olhada para mim, e voltou a olhar sua companheira, deixando uma expressão de estar constrangido, não pela aparência da companheira, mas pelo mico que ela pagava, ao alisar vestidinhos colados em seu corpo, ela não tinha simancol...Ficou lacônico.Depois mudo e ela continuava a tagarelar:
-Esse não ficaria bem em mim?
-Tá doida, isso é lycra...
-Então!Segura tudo! Fica tudo justinho, olhe, tá num bom preço, acho que fica...
-A gente só veio comprar o presente de Bela!
Ela desanimou e eu tive uma idéia: pois eu tinha duas peças na mão e se a outra eu não achasse no tamanho certo não ia levar, então:
-Essa blusinha rosa é linda, onde pegou?
-Ah, menina, lá dentro bem escondidinha, linda, né?Tá vendo Augusto!
-Mas, a moça gosta de azul?Não é?
-É, mas não vi nada bacana para levar...
-Olha só, o último grito da moda é este, mas pena que não achei o tamanho...Moda Náutica!Tudo In the Navy, querida!
-É mesmo, vi na revista, que linda essa blusinha, eu vi a moça repondo...
-Quê?Não pode ser, eu só vi esta!Poxa, não posso nem sair, se não o pessoal não perdoa, pois não estou com sacola para marcar lugar, e hoje é sexta...
-Pois é...Mas você disse que vai ser moda mesmo?
-Absolutamente, uma peça branca, uma blusa dessas, look perfeito e, ainda é azul! Ela vai amar!
-Gu, fica aí que vou ali!
-Dá para a senhora pegar um “P” para mim?
-Claro!
A moça voltou com três blusas.Uma para ela, tamanho grande e versão vermelha e duas tamanho pequeno, azul.
- Agora eu quero ver ela falar que não tenho bom gosto!
Além de trocar minha blusa, a mulher descartou um achado uma linda blusa cor-de-rosa, dessas em tom nude, que lançou sobre um bolo de roupas e sorrateiramente foi paga por mim, no caixa do outro lado.

Lição do He-man:
No episódio de hoje, você viu como não se pode colocar ninguém dentro da C&A, principalmente se houver uma peça única na mão de uma criatura que fará mau uso da mesma.
Conclusão lógica: o diabo veste C&A e não PRADA, porque o diabo não ia ser tão burro torrar grana numa Maison da vida, quando tem a fogueira das vaidades, um inferno bem montado e tantos pecadores como tem por lá.

terça-feira, setembro 26, 2006

Memórias II

Entonces, digo, então, mostrei meu livro de Nietzsche, Ecce Homo em espanhol para ele que enfatizava que “eu estava fazendo algo tão legal, que era aprender a falar com ‘meus primos’”, pois aqui não nos interessamos em crescer como comunidade latina, a velha questão do MERCOSUL e a falta de interatividade com nossos hermanos. Em apenas trinta minutos, Juan me contou tudo sobre sua vida, suas preocupações com as crianças (era professor de espanhol e lecionava por prazer), com a violência que as cercava, a falta de orientação sexual, a supressão da infância - a forma de como eram forçados a queimar etapas pelo trabalho infantil ou exemplos de convivência dados por uma família desajustada.Entre seus dados biográficos, ele mencionava aspectos do seu cotidiano de adaptação, até que citou o porquê de estar tão perturbado naquele dia.Sua esposa ia viajar e ele precisava lhe comprar uma frasqueira, e lhe fazer o mimo de preparar salada de frutas.
A gente cria estereótipos e se surpreende com nossos preconceitos mais recônditos, pois sua alegria me fascinava: ele emanava a felicidade de alguém pleno e de bem com a vida, pois eram doze anos de casamento com uma brasileira, de como largou tudo e veio a casar com ela. Ao falar de sua companheira, o argentino a descrevia com tanto orgulho, com tanta devoção que qualquer poderia jurar que ele falava de um filho, seus olhos brilhavam e a todo instante sorria como se sua pele bronzeada fosse emanar raios de sua aura fulgurante por sua realização amorosa.Ele disse que se pudesse chegaria a dizer para cada um que estava feliz, mas que não queria ser taxado de louco!
Curiosidade bateu, pedi para ver uma foto dela.E carregava na carteira não só uma, mas várias desde a mais antiga apontava uma P&B “mira mi chiquitita”, até as atuais nas quais ela aparecia com um sorriso amarelo por vestir a camisa da Argentina (pois é, o amor faz milagres...).Ela é uma bela morena, rechonchudinha, alegre e com sorriso de menina, aposto que os dois tinham a mesma idade.Descobri ainda que na verdade ele era filho de libaneses e que seu verdadeiro nome era Abdala e que havia perdido suas tias nos últimos conflitos.Sua opinião era inconteste frente ao posicionamento dos “americanos”: como você pode dizer que gosta da filha e dizer que não gosta da mãe?Comparação simples, mas cheio do sentimento que existe no Oriente Médio.Os americanos apóiam Israel e desaprovam atitudes dos países vizinhos, mesmo que estes estejam exercendo seus direitos de soberania (nota: não sou anti-semita, é pura realidade).Juan, ou melhor, Abdala, traduziu com palavras práticas o que venho sempre pensando: que realmente nossa cultura nos dá parâmetros limitados, conceituando aquilo como o que seja certo ou errado para um determinado povo, a gente acaba se alienando pela nossa perspectiva ocidental.Seus parentes morreram porque não deixaram terras que lhes pertenciam, e não fariam isso para viver em fuga constante.Loucura ou cultura de um povo?
Pedindo desculpas, vejo o homem alto e falastrão se despedir, eu lhe digo que não era problema, já que eu tinha uma “tarde de pesquisas” e algum tempo livre.Corro, para não perder mais outros minutos na enorme fila do provador, saio com um vestidinho na mão, pego outra fila para pagar.E desço as escadarias da Lapa com pressa, pois o ônibus no submundo da estação não é seguro para uma mulher solteira, mesmo cedo.Nane, que divide o apartamento comigo ligava preocupada pelo fato de não ter me encontrado em casa e eu a tranqüilizava dizendo que estava a caminho. Lia as primeiras páginas de Gabo dentro do ônibus preso no engarrafamento, Memórias de minhas putas tristes, que só cheguei a concluir quando instalei a luminária de cabeça junto a mim.Deixei marcada a página 75, onde justamente ele define o amor e que bem traduzia o sentimento de Juan-Abdala:

“Virei outro (...). Me pergunto como pude sucumbir nesta viagem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã de ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade:Estou louco de amor”.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Memórias de minhas audiências adiadas

Quando estou atrasada pareço que morrer asfixiada.Não sei se é frescura minha ou então é resposta fisiológica ao sentimento de culpa Audiência no Fórum é realmente enfadonha: todo mundo lá é mal-humorado e parecem que os fantasmas se divertem mais do que as caras tronchas dos funcionários dos cartórios. Realmente prefiro a excitante justiça do trabalho.Subo a ladeira( CBJ agora sabe que como todo bom baiano tenho que subir ladeira para pagar meus pecados) exercitando meus adormecidos músculos, que só sobem e descem escadas...Pelo menos isso, pois o sedentarismo da profissão acaba nos transformando em corcundinhas nerds nada atraentes.Tenho que cuidar disso, afinal a revolução de Pilates me espera!Mas deixa isso para próxima segunda...
Onde parei?Estava quase fazendo rapel na Ladeira Cruz da Redenção (está vendo que tenho que pagar pecados?), quando fui pegar ônibus (é isso aí, pobre anda de buzú) para a estação da Lapa.Meu cliente me telefona umas três vezes para confirmar que estou chegando, mas eu não estava tão irrequieta com a audiência porque a greve avisada por um colega já havia me tranqüilizado quanto ao horário.No caminho para o Fórum percorro um trecho que já me é tão familiar: lá fiz pré-vestibular e FESMIP (ai que bom foi encontrar alguém tão arrogante quanto eu lá! Só um adendo: o professor me mandava ler e traduzir Claus Roxin para um público de oitenta desconhecidos, fato que deve lhe levar as gargalhadas, mas eu nem tanto assim... Ele deve sentir minha falta, pois não tinha ninguém para arrogare com ele!).Os mendigos de vez em quando, recebiam umas médias com pão, cortesia minhas, a famosa “professorinha” como eles me apelidaram, tornei-me popular.E confesso: está aí a diferença sutil entre um mendigo e um marginal.Estudei durante um ano na Avenida Joana Angélica e nunca fui molestada, conhecia a todos, conversava com eles e até que recebia um certo cuidado para que nada me acontecesse:
-Num vá por lá, naum, pró!
-É professorinha, lá o bicho é solto, ôxe...
-É mermu?

(Sorry pelas grafias toscas, mas é para dar ênfase ao modo de falar, hahaha).

Nada de audiência. Vou tomar café da manhã as 10:00 numa padaria “quase perto da Piedade” , como disse Ricardo, que acompanha meu cliente VIP (Daninho pode dar risada).
Despeço-me dos dois e dou um pulo na OAB: pagar as contas, retirar meu diploma que já está lá faz um tempão e agora por necessidade, vou retirá-lo.Passo em frente à escrivaninha de Sir Rui Barbosa (escolhido o brasileiro mais notável do século - orgulho de ser baiano!), peço a “bença” ao pai dos advogados e faço gesto de como se estivesse tirando o chapéu, um velho com cara de espasmo e cabelo tingido me olha com surpresa...Cumprimento as funcionárias tão solícitas do Protocolo, ente elas Nalda, uma negra linda de alma que sempre me passou a energia boa desde os tempos de exameagony. Era dia de pesquisa.Entretanto, resolvi pesquisar a “mim mesma”.Sentei em frente a MATER PIETATIS (uma igreja antiga na piedade) e fiquei a observar os velhinhos sorridentes em dar comida aos pombos.Tudo bem.Você deve estar pensando que eu estou vagabundeando legal e brincando de viver na Europa, fazer meus horários, contemplando a vida preguiçosamente...Coisa de baiano?Não.Coisa de ser humano em reflexão de sua trajetória.Levantei antes que começasse a ficar imóvel como as belas estátuas que cercam a praça.Atravesso o sinal até o shopping e digo para mim mesma “hoje você vai almoçar direito, porque você só tem engolido comida!”Spaghetti al pomodoro, meu favorito, simples, agradável, bafão de alho, mas eu também não ia beijar ninguém( mesmo assim eu fui escovar os dentes no banheiro feminino que por milagre estava vazio). O shopping estava às moscas: desculpem-me os lojistas, mas eu só ando lá quando está assim.Ao sair resolvi passar nessas grandes “lojas de roupinhas baratas e cartões sacanas” e catando promoções observo um trintão, alto, bronzeado, gringo, e de olhos que se esbugalhavam, gesticulando e fazendo malabarismos fonéticos. Como sempre, me espichei para ouvir. Ele procurava uma “mala para colocar as coisas íntimas da mulher”.A atendente fez uma cara de deboche e ao mesmo tempo tentou “hablar” com o argentino:
-Una “bolseta”...
-No, no...- ele até se constrange, pois deve ter ciência da brincadeira da moça.
-Se llama “frasqueira” - eu tinha que ajudar
-Oh!Gracias!Usted hablas español?
-Si, en que puedo puedo ayudarle?
TO BE CONTINUED...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Hoje eu poderia escrever como todos vão fazer, minha comoção sobre o onze de setembro.Nesse dia, eu estava dentro do Banco do Brasil, peguei uma senha de número interminável, tudo para abrir uma conta salário por causa das minhas aulas de Instrutora de Inglês no SENAC.Fiquei quase o dia inteiro presa dentro do banco e como havia televisões para fazer os pobres coitados esperarem, assistia pasma uma imagem que se repetia inúmeras vezes: um avião que se chocava contra um prédio. Tanto barulho e tanta gente sem entender nada, o plantão do JN totalmente aterrador, informava as notícias transferidas pela CNN e BBC.
Pensei que teríamos uma terceira guerra mundial, pensei logo nas pessoas que estavam nos prédios, nos quarteirões, quantas vidas interrompidas, quantas seriam marcadas.Pensei logo na minha família, liguei para minha mãe, pode parecer exagero, mas saí ligando para todos que eu gostava, só para saber como estavam, até meu namorado da época eu dei um telefonema (ele nem deve lembrar...), pois se o mundo estivesse prestes a se acabar, passaríamos todos em paz.
Exagerada, eu?Não, sou precavida mesmo. É o que sempre digo: nunca deixe de dizer “eu te amo” ou “eu te odeio”, ou “não gostei disso”, pois pode ser a última vez, quantas pessoas não partiram assim?Com coisas a resolver?
Apesar de minha compaixão pelas pessoas que não tinham nada a ver com os embates políticos e guerras made in USA, não eximo o governo Bush de sua responsabilidade nem mesmo esqueço que o contingente de pessoas mortas nos conflitos do Afeganistão, Iraque e recentemente Israel X Líbano é bem superior, fora outros como o Vietnam e Guerra do Kuwait, tendo a certeza de que apenas os inocentes é que pagam pelas guerras: mulheres, crianças, gente comum, feito eu e você.Quantos mutilados existem atualmente no Oriente Médio?Quantas famílias destruídas?Será mesmo que nossa cultura ocidental deve ser imposta assim a qualquer custo?Com o preço tão alto de vidas humanas?Nossa democracia é tão eficaz para apagar séculos de regimes teocráticos que estão intrinsecamente ligados à cultura de certos povos?
O onze de setembro é um dia de silêncio, por respeito e para reflexão.Não para merchandising de tragédias, nem jornalismo apelativo.
11 segundos de silêncio por todos os filhos sem pai e mãe, para todas as pessoas que pensavam voltar para suas casas, para todas as pessoas que ainda irão morrer pela máquina do terrorismo, pela inconseqüência do Imperialismo norte-americano.

Esses eu recomendiú!!!

MATCH POINT

Um amigo meu disse que o apartamento de Scarlet Joahnson, seu figurino pareciam comigo, então num sábado sem nada para fazer fui alugar este filme de Woody. Filmado em Londres, as paisagens não mostram a Gray City que costumamos ver, mas sim paisagens outonais, douradas, ele bem que cuidou disso!Eu já tinha prometido a mim mesma_ é, prometo sempre a mim mesma ver um bom filme toda semana-estava louca para ver este longa.
Para falar a verdade, não vou com a cara do ator principal que parece um garoto propaganda da Hugo Boss (aliás, parece que fez até uso de restiline, sei lá como se escreve, aquele troço que usam para inflar os lábios): tenista-profissional-alpinista-social “como ele mesmo definiu” tornou-se marido de uma mulher ricaça, inglesa, detestável que parece criança quando quer ir ao banheiro “oh, por favor, por favor” (voz chatinha...).Então, aparece à luxúria!A mulher blondès, americana, toda “uda”, atriz, instigante, bingo!Ferra com tudo...Luxo ou luxúria?Conforto ou aventura?No Match point da vida difícil o momento em que temos noção de que não controlamos certos acontecimentos, um questionamento da sorte e do acaso.E Woody Allen merece ser aplaudido de pé, pelo final e pela trama que parece mais uma “estorinha convencional” e termina sem esse adjetivo. Maravilhosos cenários, trilha sonora espetacular.Surpreende.

AS HORAS

Criei uma expectativa tão grande sobre o filme, pensei até de me frustrar, mas isso não aconteceu.O elenco é ma-ra-vi-lho-so!Imagine Meryl Streep, Jullianne Moore,Nicole Kidman, Ed Harris, Toni Collette, todos juntos num filme, que responsabilidade!Kidman esteve maravilhosa como uma das escritoras que mais me instigam: Virginia Woolf.E como todo mundo tem medo de Virginia Woolf, até mesmo sua voz narrando os acontecimentos passados e futuros, sua forma de redigir que revolucionou uma geração foi tão bem colocada que até hoje me encanto com o filme: é um aspecto mais íntimo mais centrado em sua obsessão por terminar seu livro e continuar lúcida. Ela teve uma atitude corajosa, não que eu assine embaixo de seu suicídio, mas a escolha de não permanecer mais neste mundo sendo tragada pelas intempéries de sua insanidade, não é para qualquer um.
Ed Harris dá um show.Aliás, todos.O filme é cheio de cenas em que você prende a respiração, pensando no mais trágico, se envolve com os personagens e tudo que vem do passado ecoa sinfonicamente no futuro.
O visionário de vê morrer: é uma das frases do filme, mas é uma mensagem de ontem e de sempre, afinal todos eles são as vítimas de suas idéias revolucionárias.Virginia decide pela lógica e não pelo óbvio que seria a Mrs.Dalloway, entediada, encobrindo uma vida quenão é sua.Sublime edição e pelo livro sei que não foi fácil - e ademais, fazer par com um livro de Woolf, resgatá-la para os dias atuais, pior.Preciso urgente comprar As horas!Pesquisa de figurino, o cuidado com a fotografia em épocas distintas, a conexão que aparentemente é só um livro, desemboca nas horas de um dia, algo universal onde todos nós nos encontramos e nos identificamos, quando perdemos nossas identidades.Perfeito.


RÉQUIEM PARA UM SONHO

Não apostava muito nesse filme e o desprezei durante algum tempo.Alguns chamam de terror urbano, classifiquem como queiramos críticos, mas isso é mais do que um mero conto de exagero do mundo das drogas acontece e todo dia. Cru, impiedoso, hipnótico, a trilha dá até agonia e você nunca vê a peça clássica, o tal Réquiem...
Com Jared Leto (aquele que foi amante de Alexandre, com Collin Farrel), que parece o vocalista do Gorillazz (hahaaha, depois você me diz se não é verdade), Wayans( aquele da seqüência de todo mundo em Pânico) primeiro papel que achei relevante em sua carreira, e a senhora que faz a mãe dele, nossa, que memória a minha...Bem, também, não posso lembrar todos os nomes senão não escrevo: ela deveria ganhar todos os prêmios de atuação por essa película, ela é sensacional!
O ângulo de fotografia é mudado como se fosse a percepção dos personagens e você vê as distorções e quase se sente na pele deles, as cenas de consumo de heroína, por exemplo, são muito bem feitas melhores do que se fossem pelo ângulo do diretor ou de que está vendo o filme!O efeito é maximizado na tela e o resultado é fantástico em termos visuais, como costumo dizer: lisérgico!
A seqüência final corta sua respiração.Aliás, todo mundo deveria ter um desfribilador do lado, pois captar a sensação de raiva-angústia-medo-ojeriza-loucura-terror tudo ao mesmo tempo, mata qualquer um do coração, porém como condutor na sua obra-prima o jovem diretor nos leva ao ápice e depois ao abismo quando finalmente executa-se réquiem para aqueles que deixaram de viver e prosseguem com os efeitos trágicos de sua inércia ante aos sonhos, ou sua tentativa frustrada e brusca de contorná-los pelo “caminho mais fácil”, todos consumidos pela atual sociedade, apenas subprodutos da desentregada família americana.
Detalhe: Juice by Harry - frase que se repetia no programa de TV preferido da mãe de Harry-Jared Leto - no filme e que não quer sair da minha cabeça, alienação pura!

LOVE, LIZA.

Acho que Philip Seymour Hoffman é um dos maiores atores dessa geração, parece frase clichê do “Do Domingão do Sacão”, mas não é. Ninguém dava nada por ele, pelo gordinho sacana - perdoe a falta de modos, mas é o único termo que me vem à memória - de Perfume de mulher, lembra disso?Pois é, ele pode até ter passado desapercebido, mas quando comecei a pesquisar desde Capote, o cara tem uns filmes bons, fora o fiasco com Tom Cruise, mas deixa para lá (maldição do Tom...).
Bem, retornando, eu quero falar de Love, Liza, atuação é impecável: ele faz tão bem o papel ridículo, cheira gasolina, faz todo tipo de loucura, se abandona total, mas tudo tem um fundamento: sua esposa se suicidou e lhe deixou uma carta.O medo de descobrir algo terrível faz ele viajar com essa carta e não consegue abrir a dita cuja nem por decreto: durante todo o filme ele se atormenta por não ter coragem, por não querer sofrer mais.È um filme sobre escapismo, sobre o vazio e seria pesado e chato demais, não fosse a parte cômica e a trilha sonora que abrandam o clima.Fotografia linda, e você pensa que o abismo dele está tão perto que não sabe que horas o filme termina e nem como, é uma estória sobre difícil caminho de reconstruir uma vida, a tal da resiliência.