segunda-feira, setembro 25, 2006

Memórias de minhas audiências adiadas

Quando estou atrasada pareço que morrer asfixiada.Não sei se é frescura minha ou então é resposta fisiológica ao sentimento de culpa Audiência no Fórum é realmente enfadonha: todo mundo lá é mal-humorado e parecem que os fantasmas se divertem mais do que as caras tronchas dos funcionários dos cartórios. Realmente prefiro a excitante justiça do trabalho.Subo a ladeira( CBJ agora sabe que como todo bom baiano tenho que subir ladeira para pagar meus pecados) exercitando meus adormecidos músculos, que só sobem e descem escadas...Pelo menos isso, pois o sedentarismo da profissão acaba nos transformando em corcundinhas nerds nada atraentes.Tenho que cuidar disso, afinal a revolução de Pilates me espera!Mas deixa isso para próxima segunda...
Onde parei?Estava quase fazendo rapel na Ladeira Cruz da Redenção (está vendo que tenho que pagar pecados?), quando fui pegar ônibus (é isso aí, pobre anda de buzú) para a estação da Lapa.Meu cliente me telefona umas três vezes para confirmar que estou chegando, mas eu não estava tão irrequieta com a audiência porque a greve avisada por um colega já havia me tranqüilizado quanto ao horário.No caminho para o Fórum percorro um trecho que já me é tão familiar: lá fiz pré-vestibular e FESMIP (ai que bom foi encontrar alguém tão arrogante quanto eu lá! Só um adendo: o professor me mandava ler e traduzir Claus Roxin para um público de oitenta desconhecidos, fato que deve lhe levar as gargalhadas, mas eu nem tanto assim... Ele deve sentir minha falta, pois não tinha ninguém para arrogare com ele!).Os mendigos de vez em quando, recebiam umas médias com pão, cortesia minhas, a famosa “professorinha” como eles me apelidaram, tornei-me popular.E confesso: está aí a diferença sutil entre um mendigo e um marginal.Estudei durante um ano na Avenida Joana Angélica e nunca fui molestada, conhecia a todos, conversava com eles e até que recebia um certo cuidado para que nada me acontecesse:
-Num vá por lá, naum, pró!
-É professorinha, lá o bicho é solto, ôxe...
-É mermu?

(Sorry pelas grafias toscas, mas é para dar ênfase ao modo de falar, hahaha).

Nada de audiência. Vou tomar café da manhã as 10:00 numa padaria “quase perto da Piedade” , como disse Ricardo, que acompanha meu cliente VIP (Daninho pode dar risada).
Despeço-me dos dois e dou um pulo na OAB: pagar as contas, retirar meu diploma que já está lá faz um tempão e agora por necessidade, vou retirá-lo.Passo em frente à escrivaninha de Sir Rui Barbosa (escolhido o brasileiro mais notável do século - orgulho de ser baiano!), peço a “bença” ao pai dos advogados e faço gesto de como se estivesse tirando o chapéu, um velho com cara de espasmo e cabelo tingido me olha com surpresa...Cumprimento as funcionárias tão solícitas do Protocolo, ente elas Nalda, uma negra linda de alma que sempre me passou a energia boa desde os tempos de exameagony. Era dia de pesquisa.Entretanto, resolvi pesquisar a “mim mesma”.Sentei em frente a MATER PIETATIS (uma igreja antiga na piedade) e fiquei a observar os velhinhos sorridentes em dar comida aos pombos.Tudo bem.Você deve estar pensando que eu estou vagabundeando legal e brincando de viver na Europa, fazer meus horários, contemplando a vida preguiçosamente...Coisa de baiano?Não.Coisa de ser humano em reflexão de sua trajetória.Levantei antes que começasse a ficar imóvel como as belas estátuas que cercam a praça.Atravesso o sinal até o shopping e digo para mim mesma “hoje você vai almoçar direito, porque você só tem engolido comida!”Spaghetti al pomodoro, meu favorito, simples, agradável, bafão de alho, mas eu também não ia beijar ninguém( mesmo assim eu fui escovar os dentes no banheiro feminino que por milagre estava vazio). O shopping estava às moscas: desculpem-me os lojistas, mas eu só ando lá quando está assim.Ao sair resolvi passar nessas grandes “lojas de roupinhas baratas e cartões sacanas” e catando promoções observo um trintão, alto, bronzeado, gringo, e de olhos que se esbugalhavam, gesticulando e fazendo malabarismos fonéticos. Como sempre, me espichei para ouvir. Ele procurava uma “mala para colocar as coisas íntimas da mulher”.A atendente fez uma cara de deboche e ao mesmo tempo tentou “hablar” com o argentino:
-Una “bolseta”...
-No, no...- ele até se constrange, pois deve ter ciência da brincadeira da moça.
-Se llama “frasqueira” - eu tinha que ajudar
-Oh!Gracias!Usted hablas español?
-Si, en que puedo puedo ayudarle?
TO BE CONTINUED...

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