terça-feira, dezembro 26, 2006

Críticas de um lado, elogios de outro, mas no fim é o que se recebe por escrever algo que ninguém quer ler ou ouvir: a verdade, não é?Porém, eu resolvi divulgar aqui o pensamento de amigos e colegas que acharam minha mensagem de Natal, esta que está aí em baixo, perfeitamente válida.Desde já, meu mais sincero obrigada!
Valeu Lari,

você nos levou em um cruzeiro de reflexões, uma viagem "insólita" ao interior de nossas consciências. Concordo com você, sempre achei ridícula a maneira como a maioria das pessoas encara o Natal. Muitos até esquessem quem é o aniversariante, enchem as lojas, trocam presentes, arrumam mesa farta, fazendo a alegria do comércio e nunca do Cristo. O que desejo neste Natal é que ele se estenda pelo resto do ano que finda e por todo o ano que se aproxima, que Jesus seja sempre lembrado e que Papai Noel seja PRÁ SEMPRE ESQUECIDO.

Seu amigo,

Marcos.
Oi Larissa:
Foi surpreendente sua mensagem. Por isso e por outros motivos, você mereçe ter um 2007 de muita luz e saúde, além das outras coisas também importantes.
Obrigado, Lêda
Muito linda mensagem Lars,

É pena q na maioria das vezes precisemos de uma chacoalhada para relembrar o real significado desta data que não é apenas comercial.
Meus votos atrasados de pura alegria para vc Lars (perdoe a demora, só agora estou chegando de viagem).
J. Acelino
Linda as suas palavras Lari. Na maioria das vezes não escrevemos ou falamos isso que você disse, por "n" motivos e a mior desculpa esfarrapada é a do "sem tempo". Mas, temos tempos para tantas coisas "superfluas", mas não temos tempo para escrever e dizer o que sentimos e refletimos sobre nós mesmos e a nossa vida? Lari, Que deus continue a iluminar seu caminho sempre, ESSES SÃO OS MEUS SINCEROS VOTOS!!!
Allan
Bem, meus amigos não venham cobrar direitos autorais!Nem me processem,tá?
Por enquanto, tou fechando as contas e colocando o saldo para balanço...Depois eu conto mais do que foi 2006, que já está se despedindo de nós.
Up
1.Não tem preço ver uma criança sorrindo, dando gargalhadas.
2. O show do Keane que acabo de ver na MTV.
3. Sorvete de milho verde da Sorveteria Amaralina, aqui em Brotas.
4. O coral das Crianças do Salvador que se apresentou no Pelourinho, foi super emocionante!
Down
1.Hipocrisia humana.
2.A descaração do aumento de quase 90% do legislativo brasileiro...
3.O escândalo mais do que previsível que a Rede globo enfrenta, sem fazer cobertura do mesmo.
4.A TAM ter se comprometido com os vôos da falecidaVARIG e não ter frota, nem pessoal suficiente para administrar, sendo um dos fatores que exponenciam a atual crise nos aeroportos.

domingo, dezembro 24, 2006

Andei pensando no que escrever para meus amigos neste Natal...Como muitos me enviam mensagens simples, eu até gostaria de escrever apenas Feliz Natal, Próspero Ano Novo, etc...Sei que é de coração, afinal todos os votos vêm de pessoas que são especiais para mim, que realmente desejam do fundo do coração que eu tenha o melhor possível nesta data tão universal.Certo dia, fui à Missa a convite de minha amiga Nane, pois ela sempre dizia que esta missa era diferente, alegre e menos ritualística, ou seja mais espontânea.Apesar de ser kardecista, não deixei de freqüentar a Igreja Católica, pois eu tenho muita fé em Nossa Senhora e independente de qualquer religião, Deus está em todo lugar.Durante o sermão, o padre tocou em assuntos polêmicos e num destes, mandou que nós nos perguntássemos qual era nossa real motivação para viver.E não só isto, como também indagou várias coisas que fazemos no dia-a-dia, sem saber qual o motivo, ou ter um motivo totalmente contrário ao que pensávamos que fosse o real.Realmente, o padre “viajou” como eu costumo fazer, e mexer com as afirmações íntimas, muitas vezes desequilibra nosso ânimo ou nos faz refletir sobre o que temos plantado e colhido em nossa trajetória e o verdadeiro porquê disso tudo.Sei que muitos não têm paciência de ler, alguns devem pular lá para o fim, mas vou até colocar lá em baixo “ pode ler a mensagem, pois não desejo aqui Feliz Natal”, não se assustem.O que quero dizer, é que hoje, esteja só ou com a família, em qualquer parte do Brasil ou do mundo, reflita sobre sua real motivação de festejar algo hoje.Se você está trocando presentes, não esqueça de ligar para aquela pessoa com a qual você tenha brigado ou se desentendido, esqueça seu orgulho e dê um presente melhor para sua vida, a chance de perdoar e realmente honrar o maior presente que recebemos hoje: a vinda do Menino Jesus para toda a humanidade.Do fundo do meu coração, não desejo a você, meu amigo(a), meu irmão(ã), paz, sucesso, felicidade, prosperidade, mesa farta, presentes materiais, casa bonita e cheia de convidados, desejo apenas a consciência de que tudo isso você não deve TER, mas SER o ano inteiro, a PAZ da sua família, o SUCESSO que trabalha para melhorar o mundo,a FELICIDADE que transborda e se distribui para aqueles que amamos e que nos repudiam, a PROSPERIDADE que compartilha, a MESA FARTA que divide com o mais necessitado, o PRESENTE MATERIAL que se converte “futuro presente espiritual”, enfim desejo a você saúde, pois o todo está inserido dentro da sua capacidade de fazer deste mundo um lugar melhor.Esta é minha real motivação, e qual será sua?

Um forte abraço em todos que estão tão distantes e dos quais tenho tanta saudade!

PODE LER A MENSAGEM, POIS AQUI NÃO DESEJO FELIZ NATAL!(hehehe).

quarta-feira, dezembro 20, 2006



Revirando minha caixa de e-mails, coloquei o album do James Blunt, aquele cara alto e magrelo- e que tanta gente diz ser enjoado e desafinado... Nem ligo, eu gosto das baladas dele, acho ele uma graça e afinal, quem eu devo respeitar a crítica ou o meu gosto?Então, tive que prestar atenção numa letra: Goodbye my lover.
"Did I disappoint you or let you down?Should I be feeling guilty or let the judges frown?'Cause I saw the end before we'd begun,Yes I saw you were blinded and I knew I had won.So I took what's mine by eternal right.Took your soul out into the night.and may be over but it won't stop there,I am here for you if you'd only care.touched my heart you touched my soul.changed my life and all my goals.And love is blind and that I knew when,My heart was blinded by you.I've kissed your lips and held your head.Shared your dreams and shared your bed.I know you well, I know your smell.I've been addicted to you.Goodbye my lover.Goodbye my friend.You have been the one.You have been the one for me.I am a dreamer but when I wake,You can't break my spirit - it's my dreams you take.and as move you on, remember me,Remember us and all we used to beI've seen you cry, I've seen you smile.I've watched you sleeping for a while.I'd be the father of your child.I'd spend a lifetime with you.I know your fears and you know mine.We've had our doubts but now we're fine,And I love you, I swear that's true.I cannot live without you.Goodbye my lover.Goodbye my friend.You have been the one.You have been the one for me.And I still hold your hand in mine.In mine when I'm asleep.And I will bear my soul in time,When I'm kneeling at your feet.Goodbye my lover.Goodbye my friend.You have been the one.You have been the one for me.I'm so hollow, baby, I'm so hollow.I'm so, I'm so, I'm so hollow."

segunda-feira, dezembro 18, 2006

“A vida não é filme, você não entendeu” ou da paráfrase do Pretérito-mais-que-perfeito

Eu não quero ser o futuro do subjuntivo da sua vida. Quando nós pudermos, quando tu acordares, quanto eu fugir, quando tu entenderdes. Realmente, éramos um indicativo do presente contínuo: esperando, beijando, chorando , cantando, amando, vivendo...

Nosso amor era um release instantâneo, um verbo intransitável, um tempo insustentável, uma busca de perfeição. Anos de espera, longínquos sonhos de vidas passadas, amarelaram-se os papéis, inverteram-se as cenas, o filme mudou. Novos “atores coadjuvantes”, roteiro sem controle, película estragada... Cinema mudo: eu falo nada você sabe tudo, ironia, cansaço: a vida nos comprime e nos lança num enlatado qualquer...

De romance passamos não a um documentário, passamos para o lado B de um romance, daqueles que nenhum casal apaixonado quer ver, desses que mostram o real, o cru, os tons frios de uma relação adulta, a quebra de todos os matizes brilhantes, a narrativa fosca e pasteurizada do cotidiano, sem a doçura da ilusão, com a convivência de uma verdade escarnecedora; do comum, daquilo que ninguém quer aceitar... Que na verdade o tempo é uma constante: que somos presunçosos em falar do amanhã quando devemos viver hoje, que o para sempre existe, mas que estamos longe da imortalidade do amor: que nossa vaidade e medo é o que nos leva a nos apegarmos a este sentimento, dizermos que é para sempre ou até nos conformarmos com “para sempre, sempre acaba”. O amor não acaba, o nós sim. O Verbo permanece, acabam-se as pessoas.

Com certeza, a pessoa que você mais ama é capaz de te decepcionar e, não aceitar isso é o primeiro passo para a loucura. É normal você sofrer, levar uma queda do tamanho do castelo que você construiu: destruir os sonhos é como sacrificar animais de estimação que estão destinados a morrer de qualquer jeito... Relacionamentos sem decepções são como flores de plástico, sua beleza é artificial, na verdade nunca existiu.

O final está chegando, parece o filme que a mocinha se perde olhando o sol se pôr, é internada em algum sanatório e todos seguem com suas vidas normais; eles ainda a tomam por lição: jamais chegue tão fundo... Clichê!?O mundo é um sem par de clichês, infelizmente descobrimos que acabamos dentro de um.
No fim, todo mundo diz que nunca mais vai ver este filme. Mas, todos sabem que romances bem sucedidos não interessam a ninguém, por isso há sempre uma reprise.

Todos vão ver este filme.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Hoje seria mais um dia, não fosse “esse dia”.Ainda envolta em minhas cobertas, revirei a cama procurando o celular que estava com alarme ligado e, disparando.Feriado no Brasil, se estica até o Domingo, acorda-se mais tarde.A preguiça me faz desligar, porém lembro que tenho que tomar minha primeira dose de comprimidos. Volto para a cama, adormeço e só voo acordar 45 minutos depois, o corpo dormente, sinto cãibras...A coluna dói( maldito colchão, preciso trocar de colchão, ortopédico, claro, mas não uma tábua de tortura medieval, mas sim um colchão) a cabeça dói, o coração, até que não...Eu sinto uma paz que não sinto faz muito tempo e uma sensação de tranquilidade e calmaria me invade.Escavuco entre os meus cds aquela coletânea de Enya e vou até a faixa “Paint the Sky with Stars”, que vai preenchendo o quarto, me fazendo voltar no tempo...
É engraçado como os anos passam e depois de todos eles, a gente se reencontra, não da forma como nós desejaríamos que fosse, não assim.Eu queria que você soubese tanta coisa, que você pudesse ver as coisas que tenho visto, ou até mesmo fosse comprar sorvete floresta negra comigo.Quando voltei do supermercado, debaixo do sol escaldante, usava um boné jeans, meio engraçado, você não conhece...Boné estranho, torto, mas acho ele um charme, acho que combina com minha pele: quando não estou a fim de pentear o cabelo, coloco ele na cabeça, passo um batom e vou fazer qualquer coisa na rua, aqui perto mesmo.Quando cheguei em casa, arrumei a mesa, fiz uma saladinha, esquentei a comida e abri uma latinha de guaraná.Um brinde!Eu disse para a parede da cozinha.Almocei e tomei umas duas taças de sorvete, estou comendo tudo que engorde, você sabe, não estou no peso ideal, mas não por muito tempo!Regime de engorda, pode parecer fácil, mas para mim é um “suplício de suprimentos”.Coloquei o colchão, o mesmo que me incomoda na sala, arrumei a almofada e liguei a TV, programação horrenda, algo tão enfadonho que senti pena das pessoas que não tem TV a cabo, ou seja, agora estou entre elas porque aqui neste apartamento ainda não tenho esse luxo.Tudo bem. Procurei o DVD e comecei a assistir um de Ana Carolina e Seu Jorge, mas logo tirei, pois tinha um melhor para “este dia”, aquele do Coldplay, coloquei lá e dormi.Mas não sonhei...Acordei, vim para computador, passei pelos sites, pelas mensagens, pelas coisas tão cotidianas, tentei fazer desse dia um dia diferente, mania minha.Mas foi assim, um dia comum, sem alarde, sem fogos, nem champanhe, nem rosas, nem beijos, nem noite prolongada.
Hoje eu sei que pode ser mais um dia comum para todo mundo, mas para nós dois, depois de tanta coisa, tanta estória em comum, é uma benção estarmos bem, estarmos nos falando e relembrando tantas coisas boas e continuarmos de certa forma, cuidando um do outro.
Afinal são sete anos, sete anos de Head over feet...

quinta-feira, outubro 05, 2006

E por falar em sexo, quem anda me comendo é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá prá cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

( essa poesia eu li numa revista de filosofia, de autoria daquela jornalista que apresentava o quadro sobre filosofia no Fantástico e acaba de lançar livro, achei ótima para descrever minha reação com a idade, já que acabo de ficar mais velha).

sábado, setembro 30, 2006

Dá licença, hoje é meu aniversário


Bem, hoje eu poderia escrever mil coisas, narrar minha trajetória, falar de minhas lutas pessoais, vitórias e derrotas, enfim, contar minha estória, como se eu colocasse um espelho em meu coração e ele descrevesse tudo que sentiu e não-sentiu nesses vinte e poucos anos de vida...Não me sinto ainda com essa idade que tenho hoje e por incrível que pareça, há momentos em que chego a questionar se a minha vida já tem essa cronologia ou eu fiquei congelada por algum tempo...Tenho um coração de menina, adolescente mesmo, às vezes me castigo por minhas falhas e vejo que sou severa demais comigo, pego pesado em minha disciplina, entretanto, em outros episódios eu me sinto tão mais velha e sábia que chego a me admirar, a olhar para mim com orgulho por ter tomado uma decisão certa ou ter sido mais ponderada em determinado momento.Um parapsicólogo disse para mim certa vez que o verbo da minha vida era PONDERAR e, desde então tenho tentado fazer isso, uma missão difícil, porém necessária para minha evolução.Vocês lembram do velho Ubirajara?aquele que encontrei na livraria?Ontem fui comer caruru na Lapa e acabei encontrado ele, sentadinho e bem-arrumado do lado de uma jovem senhora, e começamos falar sobre física quântica e procesos de desdobramento, a energia que emanamos de nossos corpos, que é estudada cientificamente, e ele, falou de novo sobre eu equilibrar minhas energias, meditar.Rita de Cássia, a educadora que também estudava muito o assunto e discutia com ele, quando cheguei na mesa, acabou concluindo algo que venho estudando na vida: tudo realmente tem um propósito, nada é por acaso.
-Você não me encontrou por coincidência, nem voltou a vê-lo por isso, são as energias que estão em afinidade que nos levam para pessoas de mesmo patamar evolutivo, em termos de espírito, sempre as pessoas que você vai atrair são pessoas que condizem com sua vibração...
-Sou simplória em afirmar que tudo foi por acaso...
-Normal, a gente quando é jovem teima em acreditar.
Então, para mim, saber que todas as pesoas que estão comigo são maravilhosas, é também saber que meu reflexo é assim, e quero trabalhar cada vez mais isso, minha essência, minha luz, fazer do mundo um lugar mais bonito, tão belo como meus mais puros sonhos.
"O homem é mortal por seus temores, e imortal por seus desejos", Pitágoras.

quarta-feira, setembro 27, 2006

O diabo só pode vestir C&A...

Sobre o filme que lançaram agora, segundo meu amigo cinéfilo é ruim -falamos dele, fazemos merchan - mas para quem não se ligou é o Diabo veste Prada.O motivo deste post é engraçado porque começou no blog da Lenir que falava de suas aventuras na C&A e disse que estava louca para ouvir minhas aventuras por lá.Então, vamos nós.A tentação é grande quando colocam logo essa loja na entrada do shopping mais popular de Salvador.Imagine só: centenas de pessoas que passam numa estação de ônibus e daí, dão um pulinho no shopping “só para olhar as novidades” e acabam com a sacolita da dita cuja.A coisa que mias se repete e parece mantra de compra não-programada: “ai, não sei porque entrei, não vai dar em mim, vai ficar ridículo”, é o pensamento mais feminino ao sair de um balaio de promoções.O mais engraçado nisso tudo é que além de você pagar uma prestação que nunca acaba e achar até baixos os juros (que sinceramente, são massacrantes quando o pobre não tem dinheiro para pagar a loucura que a patroa fez), você tem que enfrentar filas quilométricas para tudo: desde comprar até pagar.Realmente: ou o diabo veste C&A e atenta todo mundo para comprar ou é um negócio que se desenvolve cada vez mais, parabéns para os administradores que não deixaram cair como a saudosa Mesbla (onde a gente comprava de tudo, desde perfume importado até cama, mesa e banho).
Eu já fiz de tudo para não perder uma peça, sou ré confessa.Assim como a Lenir que assumiu seu pequeno defeito e citou brilhantemente a frase “até na mulher mais honesta, reina um instante de faceirice perversa”, é uma verdade universal entre as mulheres e atire a primeira pedra quem nunca viu uma peça única na mão de uma felizarda e se arrependeu por não ter olhado com mais atenção.Certa vez, eu na fila para comprar uma peça que estava voando dos cabides peguei uma sem olhar numeração, nem nada.Então, na minha frente tinha uma gordinha e seu marido que mais parecia primo do Salsicha do Scooby (imagine só a dupla), quando coloquei a peça por cima da roupa, percebi que estava folgada e fui olhar o tamanho “M”, que infelizmente não preenchia meu atual porte físico de “Twiggy disfarçada” (ou seja, a falsa magra).Ela começou a estender a peça e perguntar ao marido:
-Será que Belinha vai gostar?
-Ouxe, eu acho que não, viu...Ela não gosta de rosa, prefere azul.
A mulher estava indecisa, pois era presente de aniversário, não sabia o que dar para a cunhada fashionista.
-Belinha é toda fresca, fica se achando entendida de moda, ela não sabe nada, vou levar essa e se quiser é o que achei de mais bom gosto...
-Ói, não me meta em suas escolhas, viu?Só falei que ela não vai gostar por causa da cor, se fosse azul...
Então, eis que ela deu um olhar para mim, daqueles que fingimos não estar olhando mas fazemos até um raio-x de quem estiver do lado, aquele que depois tem o feedbak que toda mulher identifica como ALARME DE DESDÉM: “essa daí não deve comer nada, magricela filha-da-mãe!”.Isso ela fazendo comparação com suas células lipídicas que transbordavam em seu conjunto de malha (brasileira quer andar na moda, mas não entende bulhufas o que pode e não pode vestir).O marido, que até então se encontrava de costas, virou-se, deu uma olhada para mim, e voltou a olhar sua companheira, deixando uma expressão de estar constrangido, não pela aparência da companheira, mas pelo mico que ela pagava, ao alisar vestidinhos colados em seu corpo, ela não tinha simancol...Ficou lacônico.Depois mudo e ela continuava a tagarelar:
-Esse não ficaria bem em mim?
-Tá doida, isso é lycra...
-Então!Segura tudo! Fica tudo justinho, olhe, tá num bom preço, acho que fica...
-A gente só veio comprar o presente de Bela!
Ela desanimou e eu tive uma idéia: pois eu tinha duas peças na mão e se a outra eu não achasse no tamanho certo não ia levar, então:
-Essa blusinha rosa é linda, onde pegou?
-Ah, menina, lá dentro bem escondidinha, linda, né?Tá vendo Augusto!
-Mas, a moça gosta de azul?Não é?
-É, mas não vi nada bacana para levar...
-Olha só, o último grito da moda é este, mas pena que não achei o tamanho...Moda Náutica!Tudo In the Navy, querida!
-É mesmo, vi na revista, que linda essa blusinha, eu vi a moça repondo...
-Quê?Não pode ser, eu só vi esta!Poxa, não posso nem sair, se não o pessoal não perdoa, pois não estou com sacola para marcar lugar, e hoje é sexta...
-Pois é...Mas você disse que vai ser moda mesmo?
-Absolutamente, uma peça branca, uma blusa dessas, look perfeito e, ainda é azul! Ela vai amar!
-Gu, fica aí que vou ali!
-Dá para a senhora pegar um “P” para mim?
-Claro!
A moça voltou com três blusas.Uma para ela, tamanho grande e versão vermelha e duas tamanho pequeno, azul.
- Agora eu quero ver ela falar que não tenho bom gosto!
Além de trocar minha blusa, a mulher descartou um achado uma linda blusa cor-de-rosa, dessas em tom nude, que lançou sobre um bolo de roupas e sorrateiramente foi paga por mim, no caixa do outro lado.

Lição do He-man:
No episódio de hoje, você viu como não se pode colocar ninguém dentro da C&A, principalmente se houver uma peça única na mão de uma criatura que fará mau uso da mesma.
Conclusão lógica: o diabo veste C&A e não PRADA, porque o diabo não ia ser tão burro torrar grana numa Maison da vida, quando tem a fogueira das vaidades, um inferno bem montado e tantos pecadores como tem por lá.

terça-feira, setembro 26, 2006

Memórias II

Entonces, digo, então, mostrei meu livro de Nietzsche, Ecce Homo em espanhol para ele que enfatizava que “eu estava fazendo algo tão legal, que era aprender a falar com ‘meus primos’”, pois aqui não nos interessamos em crescer como comunidade latina, a velha questão do MERCOSUL e a falta de interatividade com nossos hermanos. Em apenas trinta minutos, Juan me contou tudo sobre sua vida, suas preocupações com as crianças (era professor de espanhol e lecionava por prazer), com a violência que as cercava, a falta de orientação sexual, a supressão da infância - a forma de como eram forçados a queimar etapas pelo trabalho infantil ou exemplos de convivência dados por uma família desajustada.Entre seus dados biográficos, ele mencionava aspectos do seu cotidiano de adaptação, até que citou o porquê de estar tão perturbado naquele dia.Sua esposa ia viajar e ele precisava lhe comprar uma frasqueira, e lhe fazer o mimo de preparar salada de frutas.
A gente cria estereótipos e se surpreende com nossos preconceitos mais recônditos, pois sua alegria me fascinava: ele emanava a felicidade de alguém pleno e de bem com a vida, pois eram doze anos de casamento com uma brasileira, de como largou tudo e veio a casar com ela. Ao falar de sua companheira, o argentino a descrevia com tanto orgulho, com tanta devoção que qualquer poderia jurar que ele falava de um filho, seus olhos brilhavam e a todo instante sorria como se sua pele bronzeada fosse emanar raios de sua aura fulgurante por sua realização amorosa.Ele disse que se pudesse chegaria a dizer para cada um que estava feliz, mas que não queria ser taxado de louco!
Curiosidade bateu, pedi para ver uma foto dela.E carregava na carteira não só uma, mas várias desde a mais antiga apontava uma P&B “mira mi chiquitita”, até as atuais nas quais ela aparecia com um sorriso amarelo por vestir a camisa da Argentina (pois é, o amor faz milagres...).Ela é uma bela morena, rechonchudinha, alegre e com sorriso de menina, aposto que os dois tinham a mesma idade.Descobri ainda que na verdade ele era filho de libaneses e que seu verdadeiro nome era Abdala e que havia perdido suas tias nos últimos conflitos.Sua opinião era inconteste frente ao posicionamento dos “americanos”: como você pode dizer que gosta da filha e dizer que não gosta da mãe?Comparação simples, mas cheio do sentimento que existe no Oriente Médio.Os americanos apóiam Israel e desaprovam atitudes dos países vizinhos, mesmo que estes estejam exercendo seus direitos de soberania (nota: não sou anti-semita, é pura realidade).Juan, ou melhor, Abdala, traduziu com palavras práticas o que venho sempre pensando: que realmente nossa cultura nos dá parâmetros limitados, conceituando aquilo como o que seja certo ou errado para um determinado povo, a gente acaba se alienando pela nossa perspectiva ocidental.Seus parentes morreram porque não deixaram terras que lhes pertenciam, e não fariam isso para viver em fuga constante.Loucura ou cultura de um povo?
Pedindo desculpas, vejo o homem alto e falastrão se despedir, eu lhe digo que não era problema, já que eu tinha uma “tarde de pesquisas” e algum tempo livre.Corro, para não perder mais outros minutos na enorme fila do provador, saio com um vestidinho na mão, pego outra fila para pagar.E desço as escadarias da Lapa com pressa, pois o ônibus no submundo da estação não é seguro para uma mulher solteira, mesmo cedo.Nane, que divide o apartamento comigo ligava preocupada pelo fato de não ter me encontrado em casa e eu a tranqüilizava dizendo que estava a caminho. Lia as primeiras páginas de Gabo dentro do ônibus preso no engarrafamento, Memórias de minhas putas tristes, que só cheguei a concluir quando instalei a luminária de cabeça junto a mim.Deixei marcada a página 75, onde justamente ele define o amor e que bem traduzia o sentimento de Juan-Abdala:

“Virei outro (...). Me pergunto como pude sucumbir nesta viagem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã de ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade:Estou louco de amor”.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Memórias de minhas audiências adiadas

Quando estou atrasada pareço que morrer asfixiada.Não sei se é frescura minha ou então é resposta fisiológica ao sentimento de culpa Audiência no Fórum é realmente enfadonha: todo mundo lá é mal-humorado e parecem que os fantasmas se divertem mais do que as caras tronchas dos funcionários dos cartórios. Realmente prefiro a excitante justiça do trabalho.Subo a ladeira( CBJ agora sabe que como todo bom baiano tenho que subir ladeira para pagar meus pecados) exercitando meus adormecidos músculos, que só sobem e descem escadas...Pelo menos isso, pois o sedentarismo da profissão acaba nos transformando em corcundinhas nerds nada atraentes.Tenho que cuidar disso, afinal a revolução de Pilates me espera!Mas deixa isso para próxima segunda...
Onde parei?Estava quase fazendo rapel na Ladeira Cruz da Redenção (está vendo que tenho que pagar pecados?), quando fui pegar ônibus (é isso aí, pobre anda de buzú) para a estação da Lapa.Meu cliente me telefona umas três vezes para confirmar que estou chegando, mas eu não estava tão irrequieta com a audiência porque a greve avisada por um colega já havia me tranqüilizado quanto ao horário.No caminho para o Fórum percorro um trecho que já me é tão familiar: lá fiz pré-vestibular e FESMIP (ai que bom foi encontrar alguém tão arrogante quanto eu lá! Só um adendo: o professor me mandava ler e traduzir Claus Roxin para um público de oitenta desconhecidos, fato que deve lhe levar as gargalhadas, mas eu nem tanto assim... Ele deve sentir minha falta, pois não tinha ninguém para arrogare com ele!).Os mendigos de vez em quando, recebiam umas médias com pão, cortesia minhas, a famosa “professorinha” como eles me apelidaram, tornei-me popular.E confesso: está aí a diferença sutil entre um mendigo e um marginal.Estudei durante um ano na Avenida Joana Angélica e nunca fui molestada, conhecia a todos, conversava com eles e até que recebia um certo cuidado para que nada me acontecesse:
-Num vá por lá, naum, pró!
-É professorinha, lá o bicho é solto, ôxe...
-É mermu?

(Sorry pelas grafias toscas, mas é para dar ênfase ao modo de falar, hahaha).

Nada de audiência. Vou tomar café da manhã as 10:00 numa padaria “quase perto da Piedade” , como disse Ricardo, que acompanha meu cliente VIP (Daninho pode dar risada).
Despeço-me dos dois e dou um pulo na OAB: pagar as contas, retirar meu diploma que já está lá faz um tempão e agora por necessidade, vou retirá-lo.Passo em frente à escrivaninha de Sir Rui Barbosa (escolhido o brasileiro mais notável do século - orgulho de ser baiano!), peço a “bença” ao pai dos advogados e faço gesto de como se estivesse tirando o chapéu, um velho com cara de espasmo e cabelo tingido me olha com surpresa...Cumprimento as funcionárias tão solícitas do Protocolo, ente elas Nalda, uma negra linda de alma que sempre me passou a energia boa desde os tempos de exameagony. Era dia de pesquisa.Entretanto, resolvi pesquisar a “mim mesma”.Sentei em frente a MATER PIETATIS (uma igreja antiga na piedade) e fiquei a observar os velhinhos sorridentes em dar comida aos pombos.Tudo bem.Você deve estar pensando que eu estou vagabundeando legal e brincando de viver na Europa, fazer meus horários, contemplando a vida preguiçosamente...Coisa de baiano?Não.Coisa de ser humano em reflexão de sua trajetória.Levantei antes que começasse a ficar imóvel como as belas estátuas que cercam a praça.Atravesso o sinal até o shopping e digo para mim mesma “hoje você vai almoçar direito, porque você só tem engolido comida!”Spaghetti al pomodoro, meu favorito, simples, agradável, bafão de alho, mas eu também não ia beijar ninguém( mesmo assim eu fui escovar os dentes no banheiro feminino que por milagre estava vazio). O shopping estava às moscas: desculpem-me os lojistas, mas eu só ando lá quando está assim.Ao sair resolvi passar nessas grandes “lojas de roupinhas baratas e cartões sacanas” e catando promoções observo um trintão, alto, bronzeado, gringo, e de olhos que se esbugalhavam, gesticulando e fazendo malabarismos fonéticos. Como sempre, me espichei para ouvir. Ele procurava uma “mala para colocar as coisas íntimas da mulher”.A atendente fez uma cara de deboche e ao mesmo tempo tentou “hablar” com o argentino:
-Una “bolseta”...
-No, no...- ele até se constrange, pois deve ter ciência da brincadeira da moça.
-Se llama “frasqueira” - eu tinha que ajudar
-Oh!Gracias!Usted hablas español?
-Si, en que puedo puedo ayudarle?
TO BE CONTINUED...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Hoje eu poderia escrever como todos vão fazer, minha comoção sobre o onze de setembro.Nesse dia, eu estava dentro do Banco do Brasil, peguei uma senha de número interminável, tudo para abrir uma conta salário por causa das minhas aulas de Instrutora de Inglês no SENAC.Fiquei quase o dia inteiro presa dentro do banco e como havia televisões para fazer os pobres coitados esperarem, assistia pasma uma imagem que se repetia inúmeras vezes: um avião que se chocava contra um prédio. Tanto barulho e tanta gente sem entender nada, o plantão do JN totalmente aterrador, informava as notícias transferidas pela CNN e BBC.
Pensei que teríamos uma terceira guerra mundial, pensei logo nas pessoas que estavam nos prédios, nos quarteirões, quantas vidas interrompidas, quantas seriam marcadas.Pensei logo na minha família, liguei para minha mãe, pode parecer exagero, mas saí ligando para todos que eu gostava, só para saber como estavam, até meu namorado da época eu dei um telefonema (ele nem deve lembrar...), pois se o mundo estivesse prestes a se acabar, passaríamos todos em paz.
Exagerada, eu?Não, sou precavida mesmo. É o que sempre digo: nunca deixe de dizer “eu te amo” ou “eu te odeio”, ou “não gostei disso”, pois pode ser a última vez, quantas pessoas não partiram assim?Com coisas a resolver?
Apesar de minha compaixão pelas pessoas que não tinham nada a ver com os embates políticos e guerras made in USA, não eximo o governo Bush de sua responsabilidade nem mesmo esqueço que o contingente de pessoas mortas nos conflitos do Afeganistão, Iraque e recentemente Israel X Líbano é bem superior, fora outros como o Vietnam e Guerra do Kuwait, tendo a certeza de que apenas os inocentes é que pagam pelas guerras: mulheres, crianças, gente comum, feito eu e você.Quantos mutilados existem atualmente no Oriente Médio?Quantas famílias destruídas?Será mesmo que nossa cultura ocidental deve ser imposta assim a qualquer custo?Com o preço tão alto de vidas humanas?Nossa democracia é tão eficaz para apagar séculos de regimes teocráticos que estão intrinsecamente ligados à cultura de certos povos?
O onze de setembro é um dia de silêncio, por respeito e para reflexão.Não para merchandising de tragédias, nem jornalismo apelativo.
11 segundos de silêncio por todos os filhos sem pai e mãe, para todas as pessoas que pensavam voltar para suas casas, para todas as pessoas que ainda irão morrer pela máquina do terrorismo, pela inconseqüência do Imperialismo norte-americano.

Esses eu recomendiú!!!

MATCH POINT

Um amigo meu disse que o apartamento de Scarlet Joahnson, seu figurino pareciam comigo, então num sábado sem nada para fazer fui alugar este filme de Woody. Filmado em Londres, as paisagens não mostram a Gray City que costumamos ver, mas sim paisagens outonais, douradas, ele bem que cuidou disso!Eu já tinha prometido a mim mesma_ é, prometo sempre a mim mesma ver um bom filme toda semana-estava louca para ver este longa.
Para falar a verdade, não vou com a cara do ator principal que parece um garoto propaganda da Hugo Boss (aliás, parece que fez até uso de restiline, sei lá como se escreve, aquele troço que usam para inflar os lábios): tenista-profissional-alpinista-social “como ele mesmo definiu” tornou-se marido de uma mulher ricaça, inglesa, detestável que parece criança quando quer ir ao banheiro “oh, por favor, por favor” (voz chatinha...).Então, aparece à luxúria!A mulher blondès, americana, toda “uda”, atriz, instigante, bingo!Ferra com tudo...Luxo ou luxúria?Conforto ou aventura?No Match point da vida difícil o momento em que temos noção de que não controlamos certos acontecimentos, um questionamento da sorte e do acaso.E Woody Allen merece ser aplaudido de pé, pelo final e pela trama que parece mais uma “estorinha convencional” e termina sem esse adjetivo. Maravilhosos cenários, trilha sonora espetacular.Surpreende.

AS HORAS

Criei uma expectativa tão grande sobre o filme, pensei até de me frustrar, mas isso não aconteceu.O elenco é ma-ra-vi-lho-so!Imagine Meryl Streep, Jullianne Moore,Nicole Kidman, Ed Harris, Toni Collette, todos juntos num filme, que responsabilidade!Kidman esteve maravilhosa como uma das escritoras que mais me instigam: Virginia Woolf.E como todo mundo tem medo de Virginia Woolf, até mesmo sua voz narrando os acontecimentos passados e futuros, sua forma de redigir que revolucionou uma geração foi tão bem colocada que até hoje me encanto com o filme: é um aspecto mais íntimo mais centrado em sua obsessão por terminar seu livro e continuar lúcida. Ela teve uma atitude corajosa, não que eu assine embaixo de seu suicídio, mas a escolha de não permanecer mais neste mundo sendo tragada pelas intempéries de sua insanidade, não é para qualquer um.
Ed Harris dá um show.Aliás, todos.O filme é cheio de cenas em que você prende a respiração, pensando no mais trágico, se envolve com os personagens e tudo que vem do passado ecoa sinfonicamente no futuro.
O visionário de vê morrer: é uma das frases do filme, mas é uma mensagem de ontem e de sempre, afinal todos eles são as vítimas de suas idéias revolucionárias.Virginia decide pela lógica e não pelo óbvio que seria a Mrs.Dalloway, entediada, encobrindo uma vida quenão é sua.Sublime edição e pelo livro sei que não foi fácil - e ademais, fazer par com um livro de Woolf, resgatá-la para os dias atuais, pior.Preciso urgente comprar As horas!Pesquisa de figurino, o cuidado com a fotografia em épocas distintas, a conexão que aparentemente é só um livro, desemboca nas horas de um dia, algo universal onde todos nós nos encontramos e nos identificamos, quando perdemos nossas identidades.Perfeito.


RÉQUIEM PARA UM SONHO

Não apostava muito nesse filme e o desprezei durante algum tempo.Alguns chamam de terror urbano, classifiquem como queiramos críticos, mas isso é mais do que um mero conto de exagero do mundo das drogas acontece e todo dia. Cru, impiedoso, hipnótico, a trilha dá até agonia e você nunca vê a peça clássica, o tal Réquiem...
Com Jared Leto (aquele que foi amante de Alexandre, com Collin Farrel), que parece o vocalista do Gorillazz (hahaaha, depois você me diz se não é verdade), Wayans( aquele da seqüência de todo mundo em Pânico) primeiro papel que achei relevante em sua carreira, e a senhora que faz a mãe dele, nossa, que memória a minha...Bem, também, não posso lembrar todos os nomes senão não escrevo: ela deveria ganhar todos os prêmios de atuação por essa película, ela é sensacional!
O ângulo de fotografia é mudado como se fosse a percepção dos personagens e você vê as distorções e quase se sente na pele deles, as cenas de consumo de heroína, por exemplo, são muito bem feitas melhores do que se fossem pelo ângulo do diretor ou de que está vendo o filme!O efeito é maximizado na tela e o resultado é fantástico em termos visuais, como costumo dizer: lisérgico!
A seqüência final corta sua respiração.Aliás, todo mundo deveria ter um desfribilador do lado, pois captar a sensação de raiva-angústia-medo-ojeriza-loucura-terror tudo ao mesmo tempo, mata qualquer um do coração, porém como condutor na sua obra-prima o jovem diretor nos leva ao ápice e depois ao abismo quando finalmente executa-se réquiem para aqueles que deixaram de viver e prosseguem com os efeitos trágicos de sua inércia ante aos sonhos, ou sua tentativa frustrada e brusca de contorná-los pelo “caminho mais fácil”, todos consumidos pela atual sociedade, apenas subprodutos da desentregada família americana.
Detalhe: Juice by Harry - frase que se repetia no programa de TV preferido da mãe de Harry-Jared Leto - no filme e que não quer sair da minha cabeça, alienação pura!

LOVE, LIZA.

Acho que Philip Seymour Hoffman é um dos maiores atores dessa geração, parece frase clichê do “Do Domingão do Sacão”, mas não é. Ninguém dava nada por ele, pelo gordinho sacana - perdoe a falta de modos, mas é o único termo que me vem à memória - de Perfume de mulher, lembra disso?Pois é, ele pode até ter passado desapercebido, mas quando comecei a pesquisar desde Capote, o cara tem uns filmes bons, fora o fiasco com Tom Cruise, mas deixa para lá (maldição do Tom...).
Bem, retornando, eu quero falar de Love, Liza, atuação é impecável: ele faz tão bem o papel ridículo, cheira gasolina, faz todo tipo de loucura, se abandona total, mas tudo tem um fundamento: sua esposa se suicidou e lhe deixou uma carta.O medo de descobrir algo terrível faz ele viajar com essa carta e não consegue abrir a dita cuja nem por decreto: durante todo o filme ele se atormenta por não ter coragem, por não querer sofrer mais.È um filme sobre escapismo, sobre o vazio e seria pesado e chato demais, não fosse a parte cômica e a trilha sonora que abrandam o clima.Fotografia linda, e você pensa que o abismo dele está tão perto que não sabe que horas o filme termina e nem como, é uma estória sobre difícil caminho de reconstruir uma vida, a tal da resiliência.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Mariage


A prudência não cabe mais em meu corpo
meu vestido morto transparece a hipocrisia
meu vestido branco inundado de desejo
desespera uma inocência tardia

Não roubei a luz do sol
para me trancafiar numa torre
não chorei meus pecados, nem arrumei minha mala
não exterminei meu passado, nem quis o "que eu queria"
quiseram por mim...
não descobri a lua, mas na areia me vestia

O mar conversava enquanto umidecia meu espírito
dançava o sorriso no espelho, num futuro quase satírico
encontrei girassóis carregados pela luz
eo vento de vidro que castigava minha face
enquanto eu estendia roupas no azul do rol
sussurava em meu ouvido promessas de desenlace

Desnudavam minha alma enquanto me olhavam nos olhos
cerravam a desconfiança na maturidade
construíram tetos de vidro, casas para os anjos
esfacelaram a verdade.
E nos fizeram roupas.
esconde tua vergonha num pedaço de pano
esconde tua ira num corpo acetinado
num terno abrilhantado pela falsidade

Meu vestido branco não me trouxe paz
as valquírias andam nuas, as vestias cobrem-se
com sapiência
e meu vestido morto não me trouxe paz.

Não renasceu com o amanhecer
não assobiou como o mar
não refletiu a beleza da lua
não trouxe beleza para minha alma
apenas enfeitou os olhos de cobiça
afagou a vaidade e se deitou com o desprezo
não roubou a festa, não dividiu atenções, não encantou minhas visões
apareceu deslocado diante da mácula de cores
nem mesmo afastou minha prudência.
Noites insones.Nesse caso mais uma coincidência com o Miguel Fallabella: somos librianos, temos insônia e agora estou um pouco loira, mas nemtanto quanto ele.Um adendo: falando do Miguel, eu o adoro.Acho que se topasse com ele na rua iria lhe tascar um beijo na boca: não porque acho que ele um homem sedutor, nada sexual...Coisa de fã mesmo, acho que ele até não gostaria, mas, mas...Bem, eu tentaria e ainda diria:
-Tu és divino, Miguel!
Então, retomando.Noites em branco, eu passo por minhas páginas em branco e atavicamente as transcrevo.Papel branco, virginal.Sendo violado pela mão sinistra, escrita redonda, anos de peripécias caligráficas: afinal, eu fazia a caligrafia até de quem não queria, até mesmo dos meus irmãos, isso me ajudou no famigerado Exame da Ordem, onde mesmo com o maior aprofundamento jurídico, é possível voltar às bancas primárias e ganhar uma caligrafia na frente dos futuros colegas de profissão.Sim, eu vi isto e muito: não é só com médico, é com outros profissionais liberais...
Fico delirando aqui sobre o papel porque a tela de um computador me intimida.Talvez porque meus pensamentos sejam mais rápidos do que meus dedos, talvez por realmente ser vaidade de um espírito como já bem citei atávico, que goste de escrever com papel e caneta.
Foi uma frase que me despertou para este preâmbulo que estou falando.Frase do orkut, que me deixou a questionar: what may be a vice today, maybe a virtue tomorrow. Vícios e virtudes. Well-well, quais são os meus vícios que podem se tornar virtudes? Caro leitor, você não imagina quanto tempo eu levei para descobrir isso e achar uma resposta plausível, adicionada ao fato de que fiz uma ligação para outra cidade para saber de minha melhor crítica pessoal: minha mãe.
Resolvi utilizar silogística, premissa maior, premissa menor, conclusão, esquece.Fujo da ciência e dos métodos.
Resolvi listar:
Café
Chocolate
Cadernos...
Não sei bem se isto pode ser listado como vício e recorri ao “Orélio” (eu devia ser chique e citar o Houaiss, mas sou pobre e a gente adora a edição mini do pai- dos- burros).Gostei do significado três (aliás, três é demais...); conduta ou costume nocivo ou condenável.
Talvez esta seja mais confortável porque me faz mais carola, mais virtuosa.O café não será uma virtude, a não ser que descubram que a cafeína estimule outra coisa a não ser servidores públicos.O chocolate não será virtude porque certamente eles trarão consigo um acúmulo de gorduras que me tornariam uma lontra, eu não espero por um inverno tão rigoroso assim.
Meu vício que pode ser uma virtude é escrever.Por isso, as noites brancas, bem aproveitadas, lendo e escrevendo, abstraindo.Outro dia estava numa "loja de doces" como uma criança( leia-se: a candyshop é a papelaria!).Cadernos de toas as cores, tamanhos, formas, eu juro que vi uns Lumpa-lumpa e o Willie Wonka, enquanto eu alisava os cadernos.Não sabia qual escolher: o do ratito miguelito, eu poderia também ajudar o Greenpeace, ou então comprar uns novos que foram feitos com anjos renascentistas.Eles me chamam...Suas páginas brancas me pedem, chegam a sussurrar: me leve, me possua...
Estou delirando, de novo.Eu tenho uma tara por caderno.E por preenchê-los com minhas loucuras.Por isso, os períodos longos, por isso adoro o Miguel, por isso escrevo demais.
Meu vício é escrever demais.Condenável, talvez.Uma virtude?Quem sabe...

sábado, agosto 26, 2006


Estou cercadas por pessoas maravilhosas: meus pais, meus irmãos, colegas (alguns não todos) e, poucos indivíduos que posso chamar de amigos.Porém, sempre existe um, que você sente a maior falta, talvez a maior parte do tempo porque eu na a vejo faz anos...Ah, e os anos...Eles se condensam, a gente tende a “enlatar” tudo de bom e fazer conservas...
Queria abrir muitas dessas “latas” com minha melhor amiga, saber que seu sorriso seria sincero e desprovido de inveja ou chacota, sentir que sua crítica aos meus “pecados” não seriam pedras atiradas com a fúria cega ou espírito instintivo de desfazer do próximo que reside no ser humano; saberia que seus conselhos seriam de uma velha conhecida, que sempre soube a pessoinha tão louca que fui.
No dia do amigo, recebi mensagens diversas, mas nenhuma delas foi por prazer, mas por obrigação (sabe quando te passam aquelas mensagens encaminhadas por sabe lá quem? Pois é... Bastava escrever com sua própria palavra, acho algo mais sincero).É por isto que escrevi uma cartinha e como não a encontrei, guardei e esperava que um dia ela pudesse ler.

Minha querida

Muito se passou.Tantas coisas, não sei nem onde eu começo, mas acho que fazer um revival dos meus últimos anos é por demais enfadonho e isso eu só faria se você estivesse do meu lado...Já não somos as meninas brincalhonas que ficavam na Praça Abrantes uma tarde inteira com caderno na mão, só esperando o rapaz da Doceria entrar e sair, sempre sorrindo; ainda lembro do belo moreno, você lembra dele?
Lembro, também de todas às vezes que descobríamos algo diferente na vida adolescente e achávamos incrível, o que hoje para nós seria ridículo.Só você continuava ali, “posuda”, bancando a adulta e dizendo quase sempre “está vendo aprenda!”, mas no fundo a vida sempre te forçou a ser mais madura, não é?
Minha amiga, hoje mais do que nunca eu precisaria do seu apoio.Sinto-me só, mesmo cercada de gente, coisa que não acontecia com você.Não sou mais a menina que você conheceu, tornei-me uma mulher com “problemas de mulher”, mas ando cometendo erros que você chamaria de primários (eu acho), os erros de uma mulher com coração de menina.Sua sinceridade e objetividade arianas desconcertariam meu romantismo pueril que chegou até a parecer uma afronta aos mandamentos de sobrevivência que você sempre pregou. Eu sinto muito...E não foi só isso!Não só nos relacionamentos entre as pessoas, mas também no profissional acabei transportando essa característica da minha personalidade.Sei que você vai dizer ”hei, você fez Direito, não fez Serviço Social, esqueceu? Que droga de mundo você acha que vive?”, então eu balançaria a cabeça afirmativamente, e vc ainda complementaria: “tem que aprender que você não é a encarnação de Gandhi, nem mesmo ele seria assim”.
Não uso mais óculos, só de vez em quando, no caso de não estar com paciência de por as lentes.Meu cabelo está enorme, pintei de castanho, pintei de vermelho, agora está uma cor que busca outra, mas ta meio descolorido, inveja de seus fios dourados...Ouvi uma vez que você estava ruiva!Terminou a Faculdade, já é uma bióloga, dos amores não sei, nem os meus, nem os seus.Me conta?
Em todos os anos eu pensei em você.E quando limpava gavetas, tentando reformar a bagunça do meu eu, abri aquela cartinha que você pediu para eu não abrir até que a gente se despedisse naquele ano de 1997, quando a gente mal sabia pra onde ia...Eu tive aquela sensação boa de ter alguém que era como se fosse a irmã que nunca tive.
Todos escrevem “eu te amo”, “eu te adoro”, mas quando você escreve algo sei que todas as palavras são verdadeiras, porque você sempre teve dificuldade de lidar com suas emoções, de se apegar alguém e medo de sentir amor, ver essa pessoa ir embora.
E eu, me senti honrada por ter sido a pessoa que tirou um pouco desse medo, de se abrir mais para o mundo e não viver tão fechada em você.
Sei que você vai me matar por estar dizendo isso publicamente!Já posso ver seu rosto tão branquinho se transformar em vermelho, quando está zangada ou com vergonha.
Bem, eu terminando por aqui.Queria dizer que quando minha “xará” nascer eu vou batizar.
O bordão “calma moça” acabou ficando comigo...
Não fabricam mais Tocatta, que droga né?
Arianos só servem como meus amigos, namorado não cola já tentei, viu?
Onde você estiver, que um anjo paire sobre você te proteja minha menina.
I worship you.
Lari.

sábado, agosto 19, 2006

Depois de muita chuva, o sol esquenta o domingo. A vizinha apressa as crianças, dia de praia. Estou só em casa e o jornal de domingo chega. Leio as crônicas de Gilson Nascimento e Mayrantt Gallo, passo para os classificados e descubro que até a Raica, já tem cotação no mercado de “profissionais voluntariosas” que fazem companhia para executivos do tipo VIP, ou na tradução mais rude e popular, puta.É cedo ainda, começa a chover e alguns tiram o cavalinho da chuva, ou melhor, nem mesmo tem dinheiro para comprar um, tiram a tralha da sacola, esquecem da farofa tão dominical e desistem de comprar frango. Nada de praia. Meu telefone toca “Satisfaction” e nem consigo atender, pois uma dor uterina, mais conhecida como cólica me faz contorcer -e não há nada de satisfação nisso - e, falo com minha melhor amiga que me pergunta se vou ou não ajudá-la a ir à Delegacia. Acontece que, uma mulherzinha - e quando digo “zinha” é da pior espécie - pegou um táxi de uma cidade para outra, quase 100 Km e foi insultar minha amiga só porque ela estava namorando o “ex” dela...Que me chamem de fria e calculista, mas eu jamais protagonizaria uma cena assim.Moi?!Mamãe que não teve a mais britânica ou francesa das educações, mesmo assim me ensinou que é melhor ser um iceberg do que afundar com navio e tudo mais; infelizmente, algumas pessoas só entendem a linguagem do “vá tomar” e adoram que você se iguale: não são todas que merecem essa sua depreciação verbal.A coisa foi feia: agressão física.Não culpo minha amiga porque sua natureza é calma, entretanto tem sangue espanhol nas veias, que somado ao baiano, só poderia dar em cena de folhetim das oito. Senhoras e senhores, são páginas da vida(argh).Levantei da cama, me entupi de analgésicos e empurrei literalmente algo comestível.
O que mais me chamou atenção foi que enquanto esperava ela chegar na livraria da rodoviária, um senhor começou a conversar com um jovem.
O rapazote meio tímido folheava um desses livrinhos com “leõezinhos na capa”, bem bobinhos, com frases bem feitinhas, tudo detestavelmente açucarado.Vejamos o diálogo, que eu captava com toda atenção de bisbilhoteira:
-Você gosta de ler meu rapaz?
-Sim, muito...
-O quê?
-Ah...Romances...Essas coisas (amareladamente, devolve o livro à prateleira e me olha desconcertado).
-Você deve também se aprofundar e descobrir mais coisas ao seu respeito...Sabia disso?
Então, o sábio senhor que afirmava possuir 3.000 mil anos (é isso mesmo...) de pesquisa, dava conselhos cósmicos e o rapaz ouvia atentamente, às vezes puxava o velho senhor para lhe dizer algo, pois o mesmo era surdo de um dos ouvidos. O ancião percebeu que eu ouvia e passou a palestrar virando-se para mim e para o rapaz.Sabiamente, ele citou vários cientistas, traçava paralelos entre eles, coisas profundas sobre o espírito humano, as coisas mais verdadeiras que ouvi durante toda a semana inteira, enquanto eu tentava esconder um infame e genial exemplar que carregava comigo de Hilda Hist e outro de João Ubaldo.Seu nome era Ubirajara e ele me deu um cartão de um espaço de meditação, que não sei como descobriu que eu gostava, ou sentiu...Senti no ar um aroma de rosas que circundavam o ambiente.Ele me disse:
-Não queira ser médium, seja só você mesma.Se for uma escolhida, trabalhe essa energia, mas não faça disso um drama...Sim, por mais que eu lhe diga o que é bom para comer, quem vai ter que comer é você. Por isso, alimente-se, mas de forma correta.Cuide dos chakras.
Eu levava meio que na descontração, mas quando ele falou isso tentei não desfazer, aceitei.
Fechei com a clássica de que conhecendo a nós mesmos, conhecemos o universo e ele disse que eu tinha pegado a mensagem. O rapaz se despediu porque ia ver a namorada, eu também porque minha amiga me procurava.O velho Ubirajara despediu-se foi até a Siciliano procurar mais conhecimento...Minha amiga ainda choque, não conseguia comer, eu tudo que via me revirava o estômago.Almoçamos mesmo assim.Na Delegacia a má vontade é sempre uma constante, principalmente num Domingo de sol: os agentes blasfemam, os policiais doidos para tomar uma breja, ver a morena de biquíni e tendo que ficar enfiados nas fardas cor –de-burro-quando-foge da polícia local, vendo todo tipo de “Zé ruela” adentrar no recinto.
Entregamos a intimação, missão cumprida.
Eu pegava o ônibus em direção a minha casa deixando a amiga com o tão disputado namorado. “Humm... Sempre só...”, eu voltava igual ao Cazuza, meio que com inveja, meio que com melancolia.
Dentro do ônibus meu estômago começou a se revoltar...E quando desci mais parecia uma usuária de heroína, vomitando tudo que forçado para me manter de pé.Sensação horrível, nunca mais tinha tido náuseas, nem me lembrava mais o que era ter náuseas...Vi tudo rodopiar, a temperatura cair, pensei em ligar para meus pais, mas eu mataria um deles, certamente.
Andei um pouco, entrei numa farmácia, comprei o que o cara falou, péssima mania de brasileiro...Do lado, um cybercafe, viciados em CS por todo canto.
Pensei na minha mortalidade, na minha fragilidade, lembrei do conselho.
Então pensei “nele”, por que não?
E ele me chamou de amor depois de uma longa temporada.
O sol realmente reapareceu num dia certo.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Eu te amo como a curiosidade do medo maior de viver
de fenecer sem frutos e sem raízes.
Te amo como a luz que atinge a escuridão
Resgatando as boas lembranças escondidas no fundo de uma caixa azul
Eu te amo como a mãe loba que perdeu sua cria
Eu te amo como tempo que transforma
Vida, morte, obra
Com o sangue que fervilha em veias de um coração exposto
Eu te amo em sendas abertas pelo mistério infindável da vida
Eu te amo com o inverno negrume
Cinzel da minha alma em açoite
Eu te amo com tudo que não és
E com tudo que não sou
Amo-te somente
Te amo com o perfume das matas
Como os rios que fecundam a terra
Com as estrelas que reluzem em lonas eternas
Eu te amo como os jovens amam a liberdade
Mesmo sem saber o que fazer dela
Eu te amo com a carne e a ira
Estampando o desejo, transmutando a violência
Eu te amo como os campos que abrigam as ovelhinhas, que abrigam a paz
como as velhas senhoras que fazem crochê.
Eu te amo sem saber o porquê
E te amo assim porque não há outra maneira
E sonho contigo.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Achei um outro espelho...

Este lindo espelho reflete sofisticação e o poema publicado exaure as minhas tentativas de não aceitar o desafio...Babem!
" As almas gêmeas quase nunca se encontram, mas quando se encontram, abraçam-se"

segunda-feira, julho 31, 2006

Então lá estava eu filosofando, enquanto tentava me imaginar empunhando uma das velhas espingardas do melhor caçador de tatus que Mata de São João e adjacências já teve: o velho sergipano, meu avô, Seu Manoel. Quando criança, ele era como se fosse o protetor da enorme casa onde morávamos e naqueles tempos de molecada, o único que poderia nos livrar do pior pesadelo dos pequenos: a horrenda e malévola Cuca.
Todos os dias, nas manhãs de férias que não estávamos na escola ou éramos acometidos de uma das moléstias infantis obrigatórias (sarampo-catapora-caxumba); até que de vez em quando compensava: ficar deitadinha em frente à TV e, assistir uma manhã de Sítio do Pica-Pau Amarelo e Balão Mágico!
Eu e as crianças de minha época assistíamos a Cuca fazer bruxarias com as crianças e não víamos ninguém dar um fim nela. Eu e meus irmãos acreditávamos que “Vô” fosse capaz de matar a Cuca e quando treinava em casa com a “espingarda de socar” (essa não tem munição explosiva, é só para treino) a gente gritava em êxtase:
-Ê, vô matou a Cuca!
Só que para nosso desespero a Cuca estava vivíssima no outro episódio...
Mario Quintana disse que a esperança é um urubu pintado de verde e me pus a refletir se eu veria algum urubu verde e por que a famigerada ave o era... Então cheguei a conclusões talvez absurdas, talvez plausíveis, afinal até que seja provado o contrário tudo é possível nesse mundo de meu Deus.Ora, eu que jamais gostei de qualquer arma, sentia-me atraída pela espingarda magricela que dormia no meu quarto improvisado na casa de minha avó, onde passo alguns fins de semana, só porque soube do raro espécime!Ao invés de sentar-me e resignar-me, eu deveria sair mata adentro acompanhada de Hulk-perdão, não introduzi o famoso cão perdigueiro, melhor amigo do caçador, cão treinado para farejar, apontar, aprisionar e recolher o “alvo”- que iria me derrubar a cada cinco minutos.Explicado?Continuemos... Deveria eu sair mata adentro e procurar um urubu verde, cantarolando um clássico da MPB para fazer jus ao ensejo-EU CAÇADOR DE MIM de Milton Nascimento- até que pudesse achar o bendito urubu verde.Uma caça à esperança, talvez porque ela nos faça tão tolinhos na espera dos dias melhores que virão, nos faça acreditar em fonte dos desejos plantadas em Shoppings nas quais jogamos preciosas moedinhas que ficariam melhor investidas em cofrinhos, esperança que amanhã ele vai ligar ou que ela vai desistir de ligar, haha...
Não culpo a esperança por tudo que não fazemos, mas por boa parte das coisas que empurramos com a barriga (pra quem tem uma pança o caminho, o caminho é mais curto, para mim que tenho uma pequena gordurinha é bastante difícil!).
Bem, chego então às conclusões sobre o tal urubu verde, a esperança...
1. Seria um urubu a esperança porque se aproveita dos restos pútridos de nossa poluição ilusionista, nossa capacidade ou incapacidade dramática e/ou total “inginorança” da realidade.
2. Seria verde porque antes de matá-lo, eu iria derrubar meia fauna brasileira até encontrar na possível caçada, um urubu verde, por isso o ditado que a dita cuja é a última que morre...
3. Seria verde para se camuflar por entre as arvores na mata fechada, esperança que reside nas poucas florestas, esperança de oxigênio futuro.
4. Talvez, seja por isso que aquele povo que mora em selva de concreto precise de esperança camuflada em livros de auto-ajuda e suas capinhas multicoloridas... Nada de urubu , a não ser dos comuns.Vou perguntar a meu avô se ele já viu um urubu assim.E deixo a caçada pra lá, pois nem gosto de armas, ele é quem está incumbido de matar a Cuca,deixo ele matar a esperança também.No dia que meu avô acertar a pontaria, eu devo levar um tapa, daí eu vou ter certeza.
UP
1. The Yeah Yeah Yeah´s é uma banda que eu recomendo!Estou ouvindo Gold Lyon direto!
2.Voltei a frequentar o Centro Espírita, algo que me traz tanta paz e ainda levei um amigo para conhecer o trabalho da Fundação.
3.Está começando a contagem regressiva para mreu aniversário mês que vem!
DOWN
1.A décima derrota do Corinthians contra o Santa Cruz, eu não mereço isso!
2.Gripe
3.Não vou para o Festival de Inverno...
4.Alguém me convide para uma festa porque nunca mais arranjei desculpas para fazer compras!Haha..

segunda-feira, julho 24, 2006

Recomeçar.Inventar de novo, recriar, reerguer-se.Talvez sejamos compelidos a endossar um “re”como esforço heróico numa apologia individual tão presente em nossa vaidade.Desistimos...Reticências são o ponto mais eminente, constante em cada trajetória: pára e “re-torna”, “re-vive”, “re-genera”, “ re-vitaliza”... Senão, perdemos o brilho, senão perdemos a eterna dualidade maniqueísta, senão perdemos a “re-cuperação”. Dar a ré.Voltar.É isso que fazemos sempre sem admitir outra “re”, a retroatividade.
A realidade é que nem “re-criamos”, nem reciclamos, tudo já está inserido no contexto, continuamos.Não desistimos, facilitamos...Pelo bem da superação, em nome da cultura da preservação íntima e dos bons ditames, nos reerguemos, mas prosseguimos, desviando ou não.
Hoje, eu prossigo.
Amanhã num episódio mais ostensivo, flagrantemente down, desconsidero tudo isso aí e dou a ré.

Âmbar, teu olhar ímpar
retarda o anoitecer
Chama
Irisdece a alma
Acalenta, espera acontecer
Doce...
Febil ao teu alcance
Minha hesitação parece estremecer
Ama, esconde no peito
Não deixa aparecer
Mão, toca-a suavemente
sem mesmo ter
Calma, inspira em teu perfume
Anda!
Olhar é ímpar como o âmbar, ele não espera por você.

UP

1.Chloe ganhou o Project Runaway!

2.Admirável mesmo é o prefácio de Aldous Huxley para sua obra-prima, Admirável Mundo Novo, livro que estou degustando.

3. Wolfmother!

DOWN

1.Meu timão tá um timeco...

2.O Bahia tá pior, hahaha

3.A peste do Bush ainda dizer que Israel tem toda a razão, ao bombardear civis, na maioria crianças e mulheres no Líbano?Não é mesmo o cão esse bochecha estufada de pasta de creme de amendoin?

4.Piratas do Caribe é uma tentativa de remendar as dívidas da Disney, não vá asssitir...

sexta-feira, julho 14, 2006

Fazer o bem é uma das coisas que mais me deixa motivada.Receber um agradecimento emocionado não tem preço.Olhar por uma família que precisa de asssitência judiciária e não tem condições de pagar, nem mesmo esperar na fila da Defensoria Pública, é mais do que recompensador.Muitas pessoas esquecem da função social em suas profissões, não digo só a minha porque todas temos que fazer nossa parte, reciclando o que há de mal e devolvendo o bem, fazendo acontecer e não apenas exigir que o governo, as instituições, o Green Peace ou seja lá quem for, faça. Ao ver a pequena Emily, uma criança de dois anos, calma e de olhos puxadinhos, pura e indefesa, me senti feliz ao saber que sua mãe estará sempre com ela, e que apesar dos trancos e barrancos vai criá-la com amor.Cada vez, que posso ajudar alguém, é que me sinto mais humana, mais feliz e, consciente de que o mundo só não é melhor porque não queremos.
Faça o bem, sem olhar a quem.
Make it a better world.
UP
1.Kaiserchiefs? Estou adorando o som deles.
2.Project Runnaway está fervilhando quem vai ganhar?Daniel, Chloe ou Santino?Eu fico com o primeiro!
3.Cada vez mais, vejo que Carl Jung tem razão...
4.Consegui me libertar do vício!Cafeína, é claro.
DOWN
1.O vocalista do Pink Floyd morreu...
2.Prepare os ovos, os tomates porque vai começar a campanha "apocalíptica".

sexta-feira, julho 07, 2006



Euzinha...

Deja vú?

Nunca fui fã de Pitty, mas eu fui conferir o show dela no Festival de verão, no começo deste ano.Gosto de suas influências, gosto do cover do MarsVolta que ela faz, ao vivo é bem melhor.Ela não é a melhor vocalista, mas tenta, né?Rock aqui na Bahia é alternativo mesmo.Por que estou falanfo dela?Logo ela que me esnobou com suas rechonchudas canelinhas no VMB, passando por entre os mortais que a cumprimentavam no snakepit(fila do gargarejo)?É por causa da letra da música que vou colocar aqui: parece com tudo que vivo e escuto todo dia...
Nenhuma verdade me machuca
Nenhum motivo me corrói
Até se eu ficar
Só na vontade, já não dói
Nenhuma doutrina me convence
Nenhuma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio me surpreende mais

Mas eu sinto que eu tô viva
A cada banho de chuva
Que chega molhando o meu corpo
Nenhum sofrimento me comove
Nenhum programa me distrai
Eu ouvi promessas e isso não me atrai
E não há razão que me governe
Nenhuma lei pra me guiar
Eu tô exatamente aonde eu queria estar

Mas eu sinto que eu tô viva
A cada banho de chuva
Que chega molhando o meu corpo
A minha alma nem me lembro mais
Em que esquina se perdeu
Ou em que mundo se enfiou
Mas já faz algum tempo
Já faz algum tempo
Já faz algum tempo
Faz algum tempo
A minha alma nem me lembro mais
Em que esquina se perdeu
Ou em que mundo se enfiou
Mas eu não tenho pressa
Já não tenho pressa
Eu não tenho pressa
Não tenho pressa

quinta-feira, junho 29, 2006

You never hesitate to tackle the most difficult problems...

Enquanto problemas me entopem os poros, vou caminhando debaixo da chuva fria e gélida na quinta-feira "gray" da Soterópolis. A chuva, eu sei, é um benefício, é uma graça para milhões de agricultores, mas para nós que vivemos no urbanismo desenfreado é um verdadeiro motivo desencorajador, dia frio, cama quente, preguiça latente... Mesmo sabendo que pessoas necessitam da chuva e que São Pedro abre as torneiras do céu para lembrar aos mortais e "pobres pecadores" que somos, que ele ainda existe e que não acenderam nehuma fogueira no seu dia, para apagar todo e qualquer outro fogo, o velhinho judia de minha desfalcada constituição adiposa, me fazendo sentir todo o frio que a Bahia nunca teve.Agora estou aqui escutando aquelas baladinhas do Tears for Fears: é aquelas bem breguinhas dos anos 80, porque são elas que, não sei porquê, me lembram do calor do sol, longos passeios pela praia(talvez os baixos orçamentos de videoclipes limitavam os diretores à filmar um dia inteiro utilizando um único cenário, e que fosse natural.tlavez explique essa associação maluca que faço).então, eis que surge minmha preferida e não tão menos dramática Woman in Chains, e é daí que me remeto aos meus problemas, que falo do título que estava na minha previsão do orkut. Ao abrir li isto e meditei um pouco sobre as coisas que aconteceram nos útimos meses e vejo meus ciclos, a vida certamente é feita deles e quando menos espero, vejo tudo se explicando e se tornando tão simples que até me espanto, me surpreendo por deixar meus problemas se tornarem mais ativos, mais consistentes do que eu, a peça fundamental na minha existência. Longe de ser egocêntrica, até tentei dar uma de Madre Teresa, mas sinto que não nasci para sofrer, ainda mais quando se trata de sofrer por todos. Carregar os pesos do mundo é tarefa por demais masoquista e tenho que admitir humildemente que não sou tão candidata a isto tudo que estou assumindo, colocando em risco minha sanidade.Não é preciso entender muito do que falo, querido amigo leitor Gasparzinho: é só olhar para você mesmo é repensar aquele problema que você deixou para resolver amanhã, principalmente se o problema é sua família, seu companheiro, sua felicidade, etc. A pior coisa é que esse problemas são como prestações de cartão de crédito: você começa pagando o mínimo e, no mês que vem uma porrada de juros cai na sua cabeça e, por mais que você economize não consegue pagar sua dívida que se estira durante meses, anos talvez. Problemas pessoais são assim, cobram cada vez mais de você, te dão menos opções de saída, a não ser que você esteja disposto a pagar um alto preço.Pense bem, o preço pode não ser tão alto assim.
Up
The Strokes é uma banda PHODA!
Tomar chocolate quente é a única saída nesse frio desgraçado..
Copa mesmo só vale quando eu estou com meu paizão!
Down
Que filme foi aquele do Código da Vinci?O Tom Hanks matou algum animal e colocou na cabeça, só pode...
A Justiça entrou em greve, de novo...
E...Problemas, dos outros, os meus.

sábado, abril 22, 2006

Estávamos todos sentados enquanto o rapaz loiro e alto me explicava como reagir diante das criaturas. Eu, ele e a pequena Sarah éramos os únicos que poderiam lutar contra um exercito faminto de coletores de alma...Assustada, eu observava as explicações com atenção e ouvia sua voz ainda juvenil, mas que impostava respeito por ter sido ele que recebeu o ensinamento, o único elo que explicava força da pequena Sarah, com apenas sete anos, lindos cabelos negros e completamente muda.
-Você não deve deixar que eles sintam seu coração, nem deve demonstrar medo, tampouco deve correr ou fugir, porque isso os torna imensamente poderosos... Eles virão para retirar-lhe a alma e dilacerar seu corpo, pois não sobrevivem neste mundo sem uma carne que os sustentem, são como vampiros, porém muito mais poderosos, pois mudam de corpo, apenas não podem agüentar muito tempo em um só corpo.Precisam trocar a cada três dias e, por isso os ataques têm aumentado...
-Eu sinto medo... Meu coração bate descompassado...
-Não deve. Se conseguir concentrar sua força jamais será atacada!Volte-se para dentro e entrará numa espécie de campo ou sintonia que nos manterá em contato durante o ataque, a pequena Sarah vai demonstrar...
A menina sentou-se comigo no chão, ela era uma criança séria, diferente, introspectiva e muitas vezes, passava mensagens com o olhar por justamente não expressar-se em palavras. Ela fechou meus olhos, pegou minha mão e senti um deslocamento de tempo-espaço, quase que um desmaio, um espécie de sono breve.
-Eu também passei por isso. Vai ser estranho, mas deve se entregar, pois não deve vê-los com os olhos abertos, apenas os enxergará com eles fechados e se eles a virem, a levarão... Concentre-se, reflita em algo que lhe traga paz e saberá da força que necessitamos para vencer.Cada vez que conseguir achar seu equilíbrio, mais forte você se tornará.
Concentrei-me, mas não conseguia enxergar nada além do escuro. A menina tocou novamente minha mão, e dessa vez era como se minha alma, minha consciência estivessem sendo jogadas num buraco, sugadas, arrastadas para fora do meu corpo, uma sensação de afogar-se, de dormir contra a vontade do corpo, apagar por completo. Uma agonia tremenda invadia meu coração, sentia minha morte já que não sabia voltar, o corpo escorregava, mas não era meu corpo, pois estava imóvel... Ofegante, irritadiça, assustada, eu me debatia entre a vontade curiosa e o medo e, quando este venceu e eu me entreguei por achar que estava a morrer, mesmo inconformada, pois não havia outra coisa a fazer se não resignar-me.A paz invadiu os meus sentidos e pude sentir o desdobramento do corpo e da alma...
Abri meus olhos para uma claridade descomunal, a luz era tão forte que não conseguia delimitar de onde surgia... Um quadro totalmente surreal de céu cor de lavanda, arbustos verde-oliva e chão alaranjado; a temperatura era agradável, eu flutuava...Assustei-me ao me deparar andando por este cenário o guerreiro loiro e Sarah.Eles sorriam de mãos dadas.
-Cada um de nós possui uma referência visual e esta é a sua, não se assuste com o que vê, pois estamos todos dentro do seu campo de imaginação. Aqui, somos fortes, possuímos poderes inatingíveis por nossos frágeis envoltórios, é uma força mental, mas terá que exercitá-la. Agora que conseguiu, sabe que é possível nos deslocarmos e ficarmos neste campo até que os Coletores desistam ou travem uma batalha de forças...
-Que acontece se eles resistirem?
-Entrarão aqui e teremos de enfrentá-los. Você deverá lutar, até o fim, até que o último caia.
Um barulho no meu ouvido, semelhante à interferência de ondas radiofônicas e voltei daquele quadro. Os dois estavam sentados ainda e de olhos fechados.O Loiro disse:
-Vamos. Eles não vêm, nós iremos.
(...)
Estávamos dentro de um ônibus, quase sucatado, gasto e refeito várias vezes. A baixa temperatura, densa neve,constantes quedas de energia, a falta de combustível, o acidente atômico que destruíra o país a doze anos atrás, eram as desculpas das altas taxas de mortalidade.Os passageiros riam da situação de miséria e doenças que assolavam o lugar,seu burburinho matinal era a única forma de solidariedade, calor que os destrancafiava de um pesadelo doméstico, trabalhadores que contentavam-se com a sobrevivência, catadores de lixo atômico pagos pelas Nações Unidas, enrolados até o pescoço, pareciam mais mendigos, múmias do século XXI, do que cidadãos de um país que já foi próspero e reduziu-se a escombros, população indigente, economia sem sustento, tudo isso no coração do Leste Europeu .
-Eles estão aqui...
O loiro fechava os olhos e eu também. Eu pude enxergar na escuridão espectros de energia com olhos luminosos, irradiavam morte e pesadelo, estavam sentados entre os pobres catadores, de olhos abertos não se era possível enxergá-los. E o dom foi se aproximando de mim, cada vez que eu o usasse seria mais forte.
Em um instante, um deles saltou para fora do corpo, rasgando a carne e quebrando os ossos, rosnava como um cão, o odor do sangue fresco invadia, impregnava o ambiente o ferro sanguinário. Açoitava sua própria morada, tentando libertar-se do corpo que habitava... Os catadores tomados de pânico paralisados pela cena horrenda, pediam ao motorista que parasse o ônibus.Este também assustou-se, freando a condução com toda a força.Sucessivamente, outros Coletores surgiram e, os catadores corriam de seus bancos, atiravam-se das janelas em vão.Os coletores os derrubavam com garras e suas mandíbulas conseguiam destruir seus corpos, seus olhos capturavam as almas e estas eram seu sustento maior...Elas todas eram conduzidas para uma prisão interna dentro do Coletor.Eis que um deles aproximou-se de mim, depois de ter assassinado dez, e senti sua morte e depressão só de estar ao seu redor...Com uma das garras ele atravessou meu corpo e tentou vasculhar meu coração.Eu permanecia inerte, tentando entrar em sintonia com os outros dois guerreiros...Senti que ele sabia ser eu a mais fraca, mais predisposta a conduzi-lo ao meu refúgio...Totalmente centrada, eu conseguia me manter alheia.Porém um outro também fez o mesmo, tentou captar meu coração, só eu conseguia escutá-lo, ele batia fraco, pela freqüência, pelo processo de imersão no coma, no equilíbrio.Entretanto, a pressa em encontrar a luz dos amigos, me fez acelerar meus batimentos e um deles me rastreou...Senti a enorme agonia e dor...Era como se estivesse a me esganar, deixar-me sem respiração, achei uma luz, era a saída.Então quando quase sem forças e prestes a sucumbir, encontrei os dois que me olhavam em espanto.
- Vamos ter de lutar ele te seguiu...
O monstro caiu no mesmo cenário que tinha visto anteriormente e a batalha começou, eles possuíam força mental e corporal e lutavam contra aqueles seres sem ter medo. Era uma criança e um adolescente e eu a mais medrosa contra um exército de Coletores. Logo, eu descobriria que era também portadora daquele dom: de lutar sem ter nunca feito nada de arte marcial, algo inconcebível para mim. Sarah, a mais poderosa era capaz de destruir três Coletores apenas com raios que saíam de suas mãos pequenas e frágeis.O rapaz era como se fosse um guardião que lutava com as mãos e os pés, mas também possuía o poder de concentrar uma força que não sabia de onde vinha nem do quê era feita.

Então, eu acordei do sonho. E não mais sonhei com os Coletores, nem com meus dois amigos.
Um guerreiro tem o coração ferido, mas a alma límpida.Essa foi a frase que me acordou.

terça-feira, abril 04, 2006

Quando leio as notícias dos jornais e revistas internacionais sempre me indagava o que realmente significava Banana Republic. Certa vez, uma amigo sarcasticamente britânico tentou-me dizer que era por causa da economia baseada em "exportação de gêneros alimentícios" e como emblemático das safras catapultadas para fora( as frutas super selecionadas , enquanto nos contentamos com um furinho aqui e acolá na maçã) a banana seria a tropicália democracia que se instala nos países latino-americanos. Não engoli tão bem essa explicação e nos meus tempos de convivência com os "nativos" aprendi o que eles querem dizer com esse maldito termo.
Bem, durante muito tempo evitei falar de política até porque meus ideiais estão deitados em alguma maca na fila do SUS, enquanto ele vê que a vida de pobre é longa: afinal longa é fila para conseguir uma aposentadoria, merreca, esmola que se dá a velhos e desvalidos, uma sem-vergonhice tamanha que concordo com João Ubaldo Ribeiro que é menos pornográfico ver um travesti seminu "fazendo a vida" com pais de família ( irretocáveis) do que olhar para o atual cenário político.
Sem-vergonhice tamanha que nos deixa tão à vontade para sermos cheios de manhas e jeitinhos, com a velha desculpa paternalista de "que os poderes fazem, eu também posso", o povo brasileiro parece a criança que faz beicinho quando é pega subornando um gurada de trânsito.Coisa feia...
Quando o então presidente abriu sua boca cheia de dentes e nos embalou no mito do proletário que conseguiu chegar lá, dos embromations de que foi o melhor presidente que o Brasil já teve( Execelência nosso povo não tem memória, ainda é uma criança, além do mais eles só sabem quem matou Odette Roitman...), eu apenas sorrio e digo que já fui feliz e não sabia.Claro que com tantas gafes e pataquadas do Governo Federal que vão marcar todo um período, não bastasse as bolsas miserias que são distribuídas para engabelar o povo, tão desprovido de asseio mental...
Poderiam ser gafes estapafúrdias, porém seriam perdoadas se houvesse uma atividade coerente com o que foi( ai meu Deus...)prometido.Sim, eu enterrei minha cabeça várias vezes na areia, mas não agora quando na verdade disputa-se o "poder pelo poder", realmente o Erário sendo usado para a campanha não é novidade...Entretanto, encarar as cameras e dizer abertamente que não está tirando vantagem dos "bonés e camisetas dos companheiros"é muita cara-de-pau.
Que lástima, eu que ostentei essa maldita crença, quão tolinha fui.
Os membros do legislativo nem falo...Lembra do traveco que se chama Steffani? Ele é café pequeno perto das coisas medonhas e escabrosas que nào trabalham, pensam na próxima campanha, possuem zilhões de prerrogativas, quase depois de "Deus"( e Ele que me perdoe por usar seu Santo nome em vão) seguem -se esse venais, larápios, aproveitadores e todo o circo de aberrações que se possa imaginar, Não devo xingar porque isso mancharia uma revolta mais do séria.Aliás, as Excelências em seus atos ofendem toda a "putaria" existente, fazendo é claro umas ressalvazinhas...
Eu que não integro ainda o Judiciário, mas já pago com superlativos das condutas que não são minhas...O que é o STF hoje?Um apartado( melhor nào discutirmos essa questão caros colegas Magistrados, o momento não é propicío), um um homem de toga que finge que Nào há impunidade e prefere estar na irmandade do Senhor( me perdoe, Meu Deus de novo) doque descer a terra e decidir de vez os conflitos que incidem e maculam nossas instuições?Ou então, aquele que aperta a mão do advogado cuprimentando-o por ter ganho a causa na qual ele próprio fora ábitro?Como acreditar na imparcialidade?Parece mais um parco princípio quixotesco do que uma regra de julgamento.Favorecidos ou nào todos sorriem e dão entrevistas, aliás no Brasil todo mundo quer um cachê para posar nú ou na "Ilha de Caras".
Que vergonha...
Agora eu sei porque somos a cacocracia, pornodemocracia ou a republiqueta das bananas, como queiram, por que aqui só mesmo o povo aguenta comer banana verde com casca e sem beber água.Nós é que somos os verdadeiros bananas e eles...Eles são o espelho do nosso tão lascado Estado.Se depois disso eu também for ameaçada de ser presa, orem por mim, porque a única coisa que o povo brasileiro tem é fé inabalável na Seleção e que dias melhores virão. Uma pena que sou uma otimista bem informada, melhor dizendo, pessimista mesmo.

segunda-feira, abril 03, 2006

Em algum momento da sua vida, você se permite cometer uma loucura, algo inusitado, fora de planejamento e fora da sua rota tão bem traçada em dez agendas diferentes...Fazer isso não é um ato de desespero do "pare o mundo que eu quero descer" , mas de uma necessidade ímpar que é viver. Afastar-se um pouco da sua tão sufocante vida ou cotidiano corrido.A vida tal qual a colocamos nem sempre é verdadeiramente vida, mas sim um ritual de sacrifício de alguns prazeres, da limitação de nossa liberdade, pois cerceamos nosso próprio direito de ir e vir, de fazer "tonterias", de nos permitir sermos tolos, patéticos, sonhadores.
Infelizmente, não se pode impetrar um habeas corpus contra si mesmo.Todavia, a gente sempre encontra alguma "droga"para culpar quando fazemos coisas fora do normal.O preço que pagamos por nossas loucuras seja financeiro, seja pessoal sempre nos traz algo importantíssimo: audácia. Dizer no futuro "eu tentei".
Permita-se.

quarta-feira, março 22, 2006

Caminhando pelo sol ainda escaldante um moleque, mais ou menos com seus onze anos de idade me pergunta:
-Moça, vc tem problema na perna?
-Tenho...
-Por que não pega uma bengala?
-Melhor não responder...
Eu poderia ter mandado o guri para o diabo que o carregasse, mas minha expressão sarcática foi mais redundante do que qualquer julgamento.Ele esperava um palavrão, eu não devolvi...
A Pólio deixou uma seqüela em mim, mas não dessas que muitas pessoas se queixam e se acham diminuídas, frustradas e até mesmo encabuladas para tratar do assunto.Eu não podia fazer um esporte radical como surfe, como eu sempre quis, mas também foi falta de empenho( afinal existem pessoas com problemas maiores e que são verdadeiros heróis na superação de suas limitações), não pude fazer ballet, mas não deixo a desejar na pista de dança se rola um som legal( aliás eu sempre fui a Dancing Queen da música do ABBA)... A doença só evolui se você deixar que ela limite não o seu corpo, mas as expectativas que você tem dele.
Eu até já caçoei muito de mim( aliás eu mesma me dei o apelido de "Perninha" no escritório), na adoslecência é que foi meio brabo encarar que todas as meninas usavam shorts curots, saias minúsculas e eu não queria sair do par de calças...Até que uma amiga minha tirou esse complexo da minha cabeça e ainda me elogiou " dizendo que eu tinha as coxas mais bonitas que as dela".Desde então, eu sei que mesmo andando "esquisito', não tenho problemas com a seqüela, mesmo sabendo que um dia vou ter de operar, algo que ainda não fiz por pura opção...
A única seqüela que a Pólio me deu foi um calo na consciência.

domingo, março 19, 2006

Já ouvi "Trouble" do Coldplay repetidas vezes... Estou zumbizando até agora porque crise de insônia que não tem mesmo cura, quando se dá por fatores psicológicos.Não adianta tomar drogas para dormir.Na verdade, a música é uma forma de achar um consolo.
O no, I see,
A spider web is tangled up with me,
And I lost my head,
The thought of all the stupid things I've said,
O no, what's this?
A spider web, and I'm caught in the middle,
So I turned to run,
The thought of all the stupid things I've done,
I never meant to cause you trouble
And I never meant to do you wrong,
And I, well if I ever caused you trouble
O no, I never meant to do you harm
O no, I see
A spider web and it's me in the middle,
So I twist and turn
Here am I in my little bubble.
Singing out, I never meant to cause you trouble,
I never meant to do you wrong,
Ahhh, well if I ever caused you trouble
O no I never meant to do you harm
They spun a web for me
They spun a web for me
They spun a web for me

sábado, março 18, 2006

A solidão sempre foi uma constante em minha vida. As pessoas se iludem achando que solidão é “estar sem namorado, sem pessoas ao redor”. Enganam-se, pois, quantas vezes você já esteve cercado até mesmo pela sua família e sentiu-se só?Esteve com alguém que deveria preencher todas as suas expectativas de “companhia” e ao deparar-se com a pessoa do seu lado, você ainda sentiu-se frustrado por estar sentindo solidão?
Estar só, não é apenas opção, mas também várias vezes uma imposição de nossa natureza, um tom imperioso de nossas exigências, um reflexo do que somos e não nos vemos no parceiro, na família, nas pessoas.
Isto é solidão.
Eu a vivo desde pequenina quando alheia aos coleguinhas de classe, por vezes era preterida por não encontrar identificação, empatia, por não ter algo similar com alguém.
Óbvio que não era a menina sem popularidade, mas o pior de tudo é ser adorado, mas não encontrar em nenhum destes que te adoraram algo “em semelhante”.
Em raros momentos em minha vida (até agora né?) senti aquela sensação de “não estou mais sozinha” e daí, você sabe que isso faz um bem enorme, entretanto possui um revés que faz um mal danado. A solidão acaba quando você se vê em alguém, e esse mesmo se vê em você.

Lição número um

Não adianta dar festas, para encher a casa de gente: você vai gastar dinheiro, vai ser criticado e no fim vai terminar sozinho limpando a bagunça (na sua casa ou na sua cabeça...).

Lição número dois

Saiba cuidar bem de você porque quando estiver sozinho não queira se odiar.

Lição número três

“Solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita”... Cazuza tava certo, por isso largue de ser também pretensioso.
Li num blog de um amigo meu o que ele comentava sobre a morte. Tenho até evitado falar sobre ela, já que nesse mês um colega querido faleceu.
Quando eu era criança eu tinha um verdadeiro pavor da morte, porque achava que não era justo morrer depois de experimentar tanta coisa boa, eu questionava Deus e apenas tinha sete anos quando comecei a ter um pesadelo que se repetiu até os quinze: eu sempre via o meu enterro, mas não via pessoas de minha família e para piorar tinha a sensação de estar sendo enterrada viva, ou seja: eu via tudo de lá de dentro do caixão... Pode parecer macabro, mas algo que para mim foi aterrador durante anos, hoje não mais me assusta.Eu tinha medo de morrer, não queria a sensação de ser lançada no “nada”( como se o nada fosse um lugar, veja só que piração), de não mais viver e apagar lentamente...Um dia minha mãe me ensinou a rezar para meu anjo guardião e durante algumas noites até que passou, porém os pesadelos seguiram com mais detalhes.
O que quero transmitir com estas palavras é simplesmente a sensação que eu tinha em relação à morte: de total desespero como se estivesse num “deadline” que não sabia nem qual era o término, com o agravante de que eu cresci dentro de uma educação Católica- a idéia de inferno, purgatório, etc.- pois eu sabia até para onde ia se morresse criança: para o limbo.
Entretanto, quando nos preocupamos com a morte e o quanto ela nos assusta, não percebemos que somos egoístas. Depois que parei de temer a minha morte ( afinal descobri a diferença entre não aceitar e não entender) comecei a reparar mais nos outros e no que se vive do hoje, o quanto a morte é devastadora para quem fica e até mesmo me preparo para que qualquer um dos meus queridos se vá.Também parece algo meio “ absurdo” mas é uma forma de você dar valor ao que você tem agora: sua família, seus amigos, sua namorada(o), até mesmo seu bicho de estimação, enfim a todo ser vivente que o cerca.Preocupamos-nos demais com o nosso envoltório, que ficará. O que há de ser feito com ele é como bem disse Marcel explicando a “reciclagem”, o que não se perde na natureza;virar comida de minhoca não parece uma idéia razoável, mas se você pensar que na verdade seu corpo é só um recipiente e que o importante é o líquido( alma), verá que depois de nos desprendermos dele, não somos mais aquele corpo.É comum um dente que cai, uma unha que se parte: um dia fez parte do conjunto; quando partimos não mais.
O que me preocupava na morte era justamente para onde iria tudo que consegui compilar nesta vida: meus sentimentos, visões, sensações, para onde iria meu “eu”, minha alma, minha essência e sempre achei que Deus jamais faria algo com tanto esmero para simplesmente destruir, condenar, fazer desaparecer.
Sou kardecista e antes disso, não me encontrei em nenhuma das religiões que cheguei a estudar, pois todas elas não me deram uma lógica para entender a morte e nenhuma delas colocou-me em uma situação tão próxima de entender os desígnios do Criador. Com isso, não digo que não aproveitem suas vidas aqui, não!Estou confirmando o que meu amigo disse: nosso corpo é aproveitado, assim como nossa alma (ele só se equivocou ao dizer que ficamos perambulando por aí, nem todos...). O que tememos é o fim, mas é natural do ser humano. Deus é Perfeito, e nos faria como a forma mais perfeita em nossa geometria, como o círculo que não tem fim e em vários círculos que se conectam temos o Universo.

A morte só existe para aqueles que acreditam na “cegueira da visão”, pois não podem visualizar um mundo além deste. Eu sei porque sou testemunha.



Geraldo, amigo, que o Mestre te envie a Divina Luz e o tenha em sua Infinita Misericórdia.

segunda-feira, março 13, 2006

Nicholas quedou-se inerte quando acordou mais cedo naquela manhã de segunda. Olhou da porta do seu quarto seu apartamento decorado em estilo moderno , um loft, algo que combinava com sua personalidade segundo uma amiga de colégio que se tornou arquiteta, ela mesmo fez o projeto.”È um espaço à sua altura, versátil, moderno, prático, típico para um homem solteiro, bem-sucedido e jovem”.
Ele olhou em volta e nunca tinha reparado que quase tudo no apartamento era escolha de outra pessoa e não dele... Achou tão impessoal quanto um quarto de hotel, olhou para a escultura que ficava em um dos cantos da casa e que todos os seus amigos invejavam por ser obra de um artista já falecido e uma das últimas confeccionadas, por vezes recebeu elogios por seu “bom gosto para com a arte” e impressionou alguns affairs de personalidade mais requintada.
- A noite com a ruiva valeu a pena... Só que, amigo, não gosto de você, se é que você me entende.Passo por aqui e sempre me incomodou essa sua cor de burro quando foge...Quer saber mesmo o que eu queria fazer quando você chegou nesta porra de apartamento? Te jogar pela janela... Com todo respeito ao seu autor mais ele tava totalmente desgostoso quando te fez e eu que tenho que pagar para ter você aqui me assombrando...
Lembrou de uma de suas ex-secretárias que agora estudava artes plásticas e pagava faculdade com a bolsa que lhe davam para ficar em escritórios como o dele. “Doutor, sinto muito, mas meu tempo acabou. Agora vou tentar um estágio remunerado em algo na minha área”, vibrava a jovem ao pedir seu afastamento. Quase um ano depois Nicholas ligou para ex-secretária.
- Mari?
-Pois não?É a Mariana...
-Sou eu, Nicholas.
- Doutor?É o senhor?Que milagre é esse?
-Olha, eu sei que fui um porre durante o teu estágio e critiquei sempre o seu jeito de se vestir, disse pra todo mundo que achava você a maior maconheira e péssima secretária, desaforada e libertina. Prá falar a verdade, eu que inventei aquela piada suja sobre a sua reputação e...
-Não acredito!Doutor, o senhor é mesmo um...
- Calma, eu sei que te persegui de todo o jeito. Mas, eu confesso que na verdade fiz isso porque eu me identificava com você...
-Quê?
-É, na verdade eu queria extirpar isso, queria cortar uma projeção do que eu era, ou do que eu deveria ser: doidivanas como você é...
-Doidivanas soa melhor, mas mesmo assim...
-É, eu sei, sou um burguês preconceituoso e falso moralista, quando na verdade eu queria mesmo era ir lá aonde você sempre ia...
-O quê, o senhor queria fazer o “dia verde”?
-Nem tanto, eu queria ir naquele boteco que você paga dez reais e toma cana de raiz, e ainda compra literatura de cordel...
-Ah, sei. Mas, o senhor não me ligou porque quer perdão ou entrou para alguma religião, meu Deus, o senhor está terminal?
-Sai pra lá, Mari... Eu te liguei pra te dizer toda a verdade e também porque eu tenho um grande problema.
-Lembra daquela escultura que você viu na foto e disse na minha cara que eu era um farsante por possuir algo do qual eu não sabia o valor?
-Sim, me lembro, ela foi roubada?Não acredito! Essa peça é a mais importante Rogério Cacá, um gênio, um...
- Olha Mari, eu já sei a missa de toda, por favor, eu sei até quantos amantes ele teve, eu não agüento mais saber nada desse cara... por isso, você pode vir pegar a peça aqui amanhã?
-O quê?
-Vai dar a peça para mim?Eu tenho que te “dar” algo?
-Não, precisa “dar”. É sua, pode vir buscar, quanto mais cedo melhor.
-Não, isso só pode ser trote... O senhor me liga numa segunda para dizer que eu sou pessoa legal, que deveria ser como eu, confessa toda a sacanagem que fez comigo e ainda quer me dar uma peça cara de inestimável valor artístico, não acho que andei fazendo muito a cabeça esses dias...
-Eu tenho que desligar, vou deixar um recado D. Alice que cuida das minhas coisas aqui e ela deixa você entrar e levar a escultura, qualquer coisa ela me liga no celular.
- Não tenho palavras...
-Hipocrisia agora não, né, Mari?Pôxa, isso não é nada a sua cara...
-Tá certo, eu queria mandar o senhor se foder faz muito... Esse seria meu maior prazer, dizer isso pessoalmente ,e já que senhor quer uma opinião minha mesmo, nada do que o senhor fez vale isso que está me dando, mas já um começo.Se a próxima “ quinquilharia” que o senhor ganhar não gostar aceitamos doações.E, outra o senhor se acha muito sexy, mas nunca olhou para direito para o seu sorriso de hiena bêbada...
- Pensei que tinha uma queda por mim, principalmente quando eu sorria... Valeu, Mari.
- Eu? Não mesmo. A única coisa que sempre me atraiu no senhor foi o dinheiro.Obrigada por ajudar a brigada dos pobres estudantes de arte... Foda–se!

A morena que usava óculos esquisitos e roupas nada tradicionais desligara na sua cara.

Nicholas explodiu em gargalhadas. Foi no espelho conferir o sorriso de hiena bêbada. O que ele queria expressar era um cinismo, o famoso sorriso provocante que toda mulher não resiste.
“Bem devo lhe dar algum crédito, afinal é uma artista, vê outras perspectivas... Não é mesmo que pareço estar meio bêbado?Mas não vejo nenhuma hiena...”Sentiu-se um completo idiota por sorrir para todas as belas que passaram por sua vida daquela forma, e começou a testar várias outras expressões.

-Meu dinheiro é mais sexy do que eu...

Subitamente, todos os alarmes dispararam seu palmtop, celular, relógio de cabeceira. Eram programados para ficarem soando por exatos cinco minutos e dessa vez ele deixou que a confusão de sons perdurasse. “Isso é para você não mais ativar neuroticamente quatro alarmes”. O quarto seria justamente o último que seguiria logo após os cinco minutos. Uma coletânea músicas clássicas que sempre o embalavam para um começo de dia triunfante. Enquanto ele escolhia o terno, tomava banho, conferia seus compromissos matinais. Só que naquele dia ele correu apenas para esse último alarme e ligou o rádio. A primeira música era um funk totalmente explícito em sua exposição sexual. Ele riu, gargalhou mais uma vez e até dançou na frente do espelho.Uma palavra ativou sua libido e foi para o box do banheiro.Estava a se masturbar... "What a wonderful world” com Louis Armstrong ecoava pela casa enquanto ele via fachos de luz adentrando o apartamento, respirava pausadamente depois do êxtase e então tomou uma ducha demorada, viajando com a música.